A história de Susana aparece em Daniel 13, texto existente somente nas bíblicas católicas e ortodoxas. Como é um texto que chegou até nós apenas em grego, não estando presente na Bíblia Hebraica, foi excluido pelos protestantes como texto canônicos, assim como aconteceu com outros 7 livros. É um texto edificante, que mostra como Daniel, com sua contestação salva essa mulher, chamada Susana, de ser condenada injustamente à morte. Como o texto não é acessível facilmente àqueles evangélicos e protestantes, posto aqui abaixo o capítulo completo de Daniel 13.
Daniel 13
1Havia um homem que morava em Babilônia, chamado Joaquim. 2Ele tinha desposado uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, muito bela e temente ao Senhor. 3Seus pais também eram justos e haviam educado a filha na lei de Moisés. 4Joaquim era muito rico e possuía um jardim contíguo à sua casa. A ele acorriam os judeus, porque era o mais ilustre deles todos. 5Naquele ano haviam sido designados como juízes dois anciãos do povo, a respeito dos quais falou o Senhor: "A iniqüidade saiu de Babilônia, dos anciãos, que só aparentemente guiavam o povo". 6Esses dois freqüentavam a casa de Joaquim, e todos os que tinham alguma questão a julgar vinham a eles. 7E acontecia que, ao retirar-se o povo pelo meio- dia, Susana costumava entrar para um passeio no jardim do seu esposo. 8Os dois anciãos, que a observavam diariamente enquanto ela entrava e passeava, puseram-se a desejá-la. 9Perverteram assim a sua mente e desviaram seus próprios olhos, de modo a não olharem para o Céu e não se lembrarem dos seus justos julgamentos. 10Ambos ardiam de paixão por causa dela, mas não comunicavam um ao outro o seu tormento. 11Eles sentiam vergonha de revelar a própria paixão, isto é, o fato de quererem juntar-se com ela. 12Mas diariamente se escondiam, com avidez, procurando vê- la. 13Certa feita, disseram um ao outro: "Vamos para casa, pois é hora do almoço". De fato, saindo, separaram-se. 14Mas, tendo ambos retrocedido, encontraram-se no mesmo lugar e, perguntando um ao outro o motivo, confessaram a própria paixão. Então, de comum acordo, combinaram o momento em que poderiam encontrá-la sozinha. 15E sucedeu que, enquanto esperavam um dia favorável, ela entrou, certa vez, como fizera nos dias anteriores, acompanhada apenas de duas meninas. E pensou em tomar banho no jardim, porque fazia calor. 16Não havia ninguém ali, exceto os dois anciãos que, escondidos, a espreitavam. l7Ela disse então às meninas: "Trazei-me óleo e bálsamo, e fechai a porta do jardim, porque vou banhar-me". 18Elas fizeram como lhes fora dito: fecharam cuidadosamente as portas do jardim e saíram por uma porta lateral a fim de buscar o que lhes fora ordenado. E não perceberam a presença dos anciãos, que se achavam escondidos. 19Apenas saíram as meninas, levantaram-se os dois anciãos e correram para ela, 20dizendo: "As portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê, e nós te desejamos. Por isso, consente conosco e junta-te a nós! 21Se recusares, testemunharemos contra ti que um moço esteve contigo, e que foi por isso que afastaste de ti as meninas". 22Susana gemeu, dizendo: "Estou cercada por todos os lados: se eu fizer isso, aguarda-me a morte; e se eu não o fizer, não escaparei de vossas mãos. 23Mas é melhor para mim, não o tendo feito, cair em vossas mãos, do que pecar diante do Senhor". 24Gritou então Susana em alta voz, mas os dois anciãos também gritaram contra ela, 25enquanto um deles corria para abrir as portas do jardim. 26Ao ouvirem a gritaria no jardim, os familiares precipitaram-se pela porta lateral para ver o que acontecera com ela. 27Quando, porém, os anciãos deram a sua versão dos fatos, os empregados sentiram-se profundamente envergonhados, porque jamais se dissera algo semelhante a respeito de Susana. 28No dia seguinte, ao reunir-se o povo na casa de Joaquim, seu marido, vieram também os dois anciãos, cheios de iníquo propósito contra Susana, pretendendo condená-la à morte. 29E assim falaram, diante do povo: "Mandai chamar Susana, filha de Helcias, a que é mulher de Joaquim". Chamaram-na, pois, 30e ela compareceu. Vieram também seus pais, seus filhos e todos os seus parentes. 31Ora, Susana era muito delicada e bela de rosto. 32Como estivesse velada, aqueles malvados ordenaram que lhe retirassem o véu, a fim de poderem fartar-se da sua beleza. 33Entretanto, choravam os que estavam com ela e todos os que a viam. 34Então, levantando-se no meio do povo, os dois anciãos impuseram-lhe as mãos sobre a cabeça. 35Ela, chorando, olhava para o céu, porque o seu coração tinha confiança no Senhor. 36Falaram então os anciãos: "Enquanto passeávamos sozinhos no jardim, esta mulher entrou com duas servas. Depois, fechou as portas do jardim e despediu as servas. 37Nesse momento aproximou-se dela um jovem, que estava oculto, o qual deitou-se com ela. 38Nós, que estávamos em um canto do jardim, ao vermos a iniqüidade, corremos sobre eles, 39chegando a vê-los juntos. Quanto a ele, não conseguimos agarrá-lo porque era mais forte do que nós e, tendo aberto as portas, saltou para fora. 40A ela, porém, agarramos e perguntamos quem era o jovem, 41mas não quis dizê-lo para nós. Disto somos testemunhas". A assembléia creu neles, pois eram anciãos do povo e juízes. E julgaram- na ré de morte. 42Susana clamou então em alta voz, dizendo: "Ó Deus eterno, que conheces as coisas ocultas, que sabes todas as coisas antes de sua origem, 43tu sabes que é falso o testemunho que levantaram contra mim. Eis, pois, que vou morrer, não tendo feito nada do que estes maldosamente inventaram a meu respeito". 44E o Senhor escutou a sua voz. 45Enquanto a levavam para Fora, a fim de ser executada, suscitou Deus o espírito santo de um jovem adolescente, chamado Daniel, 46o qual clamou em alta voz: "Eu sou inocente do sangue desta mulher!" 47Voltou-se então todo o povo para ele, dizendo: "Que palavra é esta, que acabas de proferir?" 48E ele, de pé no meio deles, respondeu: "Tão insensatos sois vós, ó filhos de Israel? Sem julgamento e sem conhecimento claro vós condenastes uma filha de Israel? 49Voltai ao lugar do julgamento, pois é falso o testemunho que esses homens levantaram contra ela". 50E o povo todo voltou, apressadamente. E os outros anciãos lhe disseram: "Senta-te no meio de nós e expõe-nos o teu pensamento, pois Deus te deu o que é próprio da ancianidade". 51Disse-lhes então Daniel: "Separai-os bastante um do outro, e eu os julgarei". 52Tendo sido separados um do outro, chamou o primeiro deles e disse-lhe: "Ó tu que envelheceste no mal! Agora aparecem os teus pecados, que cometeste no passado: 53fazendo julgamentos injustos, condenavas os inocentes e absolvias os culpados, apesar de o Senhor dizer: 'Tu não farás morrer o inocente e o justo!' 54Agora, pois, se é que a viste, dize-nos debaixo de que árvore os viste entretendo-se juntos". E ele respondeu: "Debaixo de um lentisco". 55Retrucou-lhe Daniel: "Mentiste perfeitamente, contra a tua própria cabeça! Pois o anjo de Deus, já tendo recebido a sentença da parte de Deus, te rachará pelo meio". 56Mandando sair este, ordenou que trouxessem o outro. E disse-lhe: "Raça de Canaã e não de Judá, a beleza te extraviou e o desejo perverteu o teu coração.57Assim procedíeis com as filhas de Israel, e elas, por medo, se entretinham convosco. Mas uma filha de Judá não se submeteu à vossa iniqüidade. 58Agora, pois, dize-me debaixo de que árvore os surpreendeste entretendo-se juntos". E ele respondeu: "Debaixo de um carvalho". 59Retrucou-lhe Daniel: "Mentiste perfeitamente, tu também, contra a tua própria cabeça. Pois o anjo de Deus está esperando, com a espada na mão, para te cortar pelo meio, a fim de acabar convosco." 60Então a assembléia inteira prorrompeu num clamor em alta voz, bendizendo ao Deus que salva os que nele esperam. 61E levantaram-se contra os dois anciãos porque Daniel, por sua própria boca, os havia convencido de falso testemunho. E fizeram com eles da maneira como haviam maquinado perversamente contra o próximo, 62agindo segundo a Lei de Moisés. Mataram-nos, portanto, e assim foi poupado o sangue inocente, naquele dia. 63Então Helcias e sua mulher elevaram um hino a Deus por causa de sua filha Susana, com Joaquim seu marido e todos os seus parentes, porque nada de torpe havia sido encontrado nela. 64Quanto a Daniel, desse dia em diante tornou-se grande aos olhos do povo.