As histórias da infância de Jesus, suas travessuras e milagres, são inúmeras nos Evangelhos Apócrifos. Escolhemos algumas relacionadas diretamente com Maria, quem mostram o papel dela como educadora de Jesus.

Maria, falando de Jesus menino para João, diz: "A primeira vista, Jesus era um menino como os outros. Bem, não exatamente como os outros, porque era lindíssimo. Alguns dirão, João, que eu exagero e que é paixão de mãe. Porém, tu, que o amavas quase tanto quanto eu, sabes que meu filho era de verdade muito formoso, embora o tivesses conhecido já como homem, enquanto eu tive a imensa felicidade de vê-lo crescer dia a dia ao meu lado. Jesus era um menino como os outros, ao mesmo tempo bem diferente"[1].

Pseudo Evangelho de Mateus 26,1-3 conta que, quando Jesus tinha 4 anos de idade, ele estava brincando com outras crianças, em um dia de sábado. "Jesus foi sentar-se e fez 7 lagoinhas de barro interligadas por pequenos canais, por meio dos quais, à sua ordem, a água corria da torrente para as lagoinhas e voltava novamente. Outro menino, filho do diabo, repleto de inveja, fechou a compota que controlava a entrada da água e acabou com aquilo que Jesus fizera. Jesus lhe disse: -"Ai de ti, filho da morte, filho de Satanás! Tu destruíste a obra que fiz?" E imediatamente o (menino) que havia feito aquilo caiu morto.

Os pais dele se revoltaram contra Maria e José, dizendo: -"Vosso filho amaldiçoou o nosso filho e ele morreu". Quando José e Maria ouviram aquilo, foram logo ter com Jesus, por causa da revolta dos pais do menino e do ajuntamento de judeus.

José disse baixinho a Maria: -"Eu não tenho coragem de falar com ele. Tu repreende-o e dize-lhe: Por que suscitaste contra nós o ódio do povo? E agora devemos suportar a exasperação do povo? E aproximando-se dele, sua mãe, Maria, rogava-lhe dizendo: Qual foi o crime dele para que morresse? E Jesus respondeu: -"Merecia a morte, já que destruiu aquilo que eu tinha feito".

Sua mãe, então, lhe pediu: -"Não faças isso, meu Senhor, pois todos se revoltam contra nós". Não querendo contristar a sua mãe, com o pé direito, Jesus tocou as nádegas do morto e lhe disse: - "Levanta-te, filho iníquo. Não és digno de entrar na paz de meu pai, porque destruíste a obra que eu tinha feito". Então o que tinha sido morto se levantou e foi-se embora. Jesus, entretanto, voltou ao seu jogo, levando água pelo canalzinho até as lagoinhas.

"Quando Jesus tinha seis anos, a sua mãe o mandou, com um cântaro, buscar água na fonte, junto com outros meninos. Aconteceu que, depois de ter enchido o cântaro, um dos meninos lhe deu um empurrão. Com isso, o cântaro caiu e se quebrou. Jesus estendeu o manto que usava, recolheu nele a quantidade de água que o cântaro continha e a levou para sua mãe. Vendo isso, ela se maravilhou, meditava consigo mesma e guardava tudo em seu coração"[2].

Em outra ocasião, depois de outros feitos assustadores de Jesus, "ele voltou para a casa de sua mãe. José ficou com medo. Chamou Maria perto de si e disse: -"Em verdade, sabe que a minha alma está triste até à morte por causa deste menino. Pois pode acontecer que qualquer pessoa bata nesse menino e morra". Maria respondeu: -"Homem de Deus, não penses que isso possa acontecer. Crê que aquele que o enviou no meio dos homens, o guardará de qualquer malignidade e, em seu nome o preservará do mal?"(Pseudo Evangelho de Mateus 38,2).

Estas histórias e tantas outras sobre a relação maternal de Maria com Jesus, você, caro leitor, encontrará no nosso livro citado acima. São histórias de fé belíssimas que, infelizmente, os Evangelhos canônicos não conservaram.

[1] Cf. Evangelho secreto da Virgem, página 103.
[2] Cf. Pseudo Evangelho de Mateus 33,1.


Esse texto é tirado do livro de Fr. Jacir História de Maria, mãe e apóstola de seu filho nos Evangelhos Apócrifos, publicado pelas Vozes de Petrópolis em 2006.

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