Na bíblia os anjos são muito comuns, começando pelos querubins que, no livro do Gênesis, são colocados a vigiar o ingresso do Éden (3,24) até o Apocalipse, que apresenta os céus cheios de anjos. São seres sobre-humanos, mas não são deuses. No AT se usa a palavra mal’ak, termo que significa mensageiro. Em grego, essa palavra se transformou em Anghelos, de onde deriva o nosso vocábulo em português, anjo. O vocábulo, no Antigo Testamento, aparece 215 vezes e se torna até nome de um dos profetas, Malaquias, que em hebraico significa anjo do Senhor.
Embora sofra a influência da cultura religiosa dos povos que o circundavam, os hebreus, quando falavam de anjos, não os consideram como divindades, embora muitas vezes são sinal da manifestação divina, tanto que o cérebre biblista, Gerhard von Rad, diz que por meio dos anjos o próprio Deus aparece aos homens em forma humana. De fato, em alguns textos bíblicos, Deus e o anjo podem se confundir, como por exemplo na narração da sarça ardente de Êxodo 3, no Sinai. Neste texto primeiro aparece o “anjo do Senhor”, mas logo em seguida o texto continua dizendo: “O Senhor viu que Moisés se aproximou e Deus lhe chamou da sarça”. A mesma coisa acontece em outros textos, tais como Gênesis 16,7.13 (Agar no deserto, com Ismael), Gênesis 22 (sacrifício de Isaac) e Juízes 6,12.14 (vocação de Gedeão).
Para a Bíblia, o anjo é basicamente um mensageiro, a personificação da eficácia da palavra de Deus que traz salvação e julgamento. Essa realidade é evidente se consideramos a visão de Jacó, em Betel (Gênesis 28,12), que vê anjos que subiam e desciam através de uma escala que da terra levava ao céu. O anjo liga o céu e a terra, o infinito e o finito, a eternidade e a história, Deus e o ser humano.
Seres e hierarquia
Esse tema não é tanto bíblico, mas deriva de uma tradição judaica e depois de uma teologiaque procurou classificar os vários "tipos" de anjos. Um dos protagonistas nesse campo foi Pseudo Dionísio, que expôs sua teoria no De Caelesti hyerarchia. Ele indicou, baseando-se sobretudo em Efésios 6,12 e Colossenses 1,16, 3 classes de anjos e, dentro de cada classe, 3 níveis diferentes. Essa é a classificação que ele propõe:
- Primeira: Serafins, Querubins e Tronos
- Segunda: Dominações, virtudes e potestades
- Terceira: Principados, arcanjos e anjos
Dentro dessa lógica, os serafins seriam a categoria mais elevada. Eles estão próximos da presença de Deus, como se vê através do texto de Isaías 6,1-3
“Vi o Senhor sentado num trono alto e elevado. A barra do seu manto enchia o Templo. De pé, acima dele, estavam serafins, cada um com seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés, e com duas voavam. Eles clamavam uns para os outros: “Santo, Santo, Santo é Javé dos exércitos, a sua glória enche toda a terra”.
O anjo da guarda
Essa tradição deriva do livro de Tobias onde aparece Rafael (que significa “Deus cura”) e a partir da história que ali é contada nasce a fé nessa figura angélica, que cuida das pessoas. Diz Rafael em Tobias 12,18: “Quando estava com vocês, não estava com vocês por minha iniciativa, mas por causa da vontade de Deus”. A mesma ideia aparece nos Salmos: “O anjo do Senhor acompanha aqueles que o temem e os salva (...). O Senhor comandará aos seus anjos de cuidar de ti em todos os teus passos; conduzirão a ti com suas mãos para que teus pés não tropecem na pedra” (Salmos 91,11-12).