É uma pergunta interessante sobre a qual, sinceramente, não conheço muitos estudos. É verdade que há o aspecto do simbolismo, principalmente no Apocalipse, que explora muito esse âmbito da realidade das coisas, mas pouco se diz, por exemplo, das cores no Antigo Testamento. Mas uma pergunta como essa que você propõe nos faz explorar um pouco esse tema.

As referências às cores na Bíblia são muito frequentes. Todavia, nem sempre é possível identificar exatamente conforme a classificação nossa moderna. Ou seja, algumas cores que aparecem na Bíblia são traduzidas de certa maneira que nem sempre dizem exatamente aquilo que significam. Por exemplo, a palavra “techelet” é traduzida como azul, assim como a cor da bandeira de Israel. Mas há estudiosos que têm dúvidas e alguns dizem que indica algo parecido com o verde e outros com o amarelo.

O tema fica interessante quando analisamos a ligação que existe entre a cor e elementos. Por exemplo a palavra “adom” é o termo usado para vermelho. Não existe dúvida sobre a sua etimologia, que se liga ao sangue, em hebraico “dam”. É a mesma raiz usada para o homem (adam) e para terra (adamá). Por que assim se chama o homem? Certamente por que é feito de sangue, mas também por que foi criado da terra... Mas a terra é vermelha ou marrom?

Outra palavra onde podemos observar algo parecido é yaròck, que traduzimos como “verde”, que se encontra em Gênesis 1, tendo o sentido de “verdura”. A palavra lavàn indica, em hebraico, o branco. É uma palavra que pode ter origem no termo “Líbano”, onde cai a neve. Ou também pode ter a ver com o leite, ao menos atualmente, pois, por exemplo, em hebraico moderno, iogurte se diz “lebenià”. Igualmente a palavra usada para amarelo è zahòv e a raiz sem dúvida tem a ver com zahàv, que é ouro.

Muito interessante é também o aspecto colorido do arco-íris, sinal da promessa de Deus para não destruir mais a terra com a água. A Cabalá diz que nele se sobressaem o branco, vermelho e verde. São cores que essa corrente hebraica liga com os três patriarcas: Abraão (verde), Isaque (vermelho) e Jacó (branco). A cor verde de Abraão estaria presente no verde dos árabes, que dizem descender de Abraão, Ismael. Isaque é vermelho em ligação com Esaú. E Jacó é tido como pacífico, mas note-se também a sua ligação com Laban (Lavàn = branco).

Já outra tradição da cabala diz que as cores fundamentais do universo são o verde, vermelho, branco e safira, colocados em relação com os 4 animais das visões de Ezequiel, retomadas no Apocalipse.

A propósito do Apocalipse, no Novo Testamento, poderíamos ter um tratado a parte. O seu autor exprime com cores várias nuances emocionais e teológicas. Ele destaca 5 cores: o branco simboliza a transcendência e a vitória do ressuscitado e igualmente daqueles que triunfam com Cristo. O dourado, o outro puro, é a cor reservada para a liturgia, pois simboliza a proximidade com o mistério divino. As outras três cores são negativas: o vermelho escarlate simboliza o demoníaco, a violência (o dragão, por exemplo). O verde amarelado é a fragilidade da vida. E o prego simboliza a miséria, as ameaças e a injustiça social.

 

Cores litúrgicas

Na tradição litúrgica, os paramentos, ou vestes, tanto do altar quanto do sacerdote são caracterizadas por cores conforme os tempos litúrgicos: temos o branco para o tempo de festa, o verde para o tempo ordinário, o vermelho para a memória dos mártires e o roxo para o tempo do advento e quaresma. O período em que são usadas tais cores já traduz o significado que elas transmitem. Entrando em particular de cada cor, o branco obviamente se lita ao simbolismo presente também no Apocalipse, que lembra a ressurreição, a paz, a pureza. O vermelho recorda a morte dos mártires que entregaram a própria vida seguindo o martírio do próprio Cristo; o roxo é luto, principalmente recordando a morte de Cristo e o verde é o tempo de graça e esperança.

Há ainda outras duas cores, muito pouco usadas. No terceiro Domingo do Advento (Gaudete) e o quarto Domingo da Quaresma (Laetare), é utilizado o róseo, que simboliza a alegria. A outra cor é o preto, que é utilizada nas celebrações do dia de Finados ou em missa de corpo presente.