Assim lemos em Apocalipse 10,8-11:
“Vai, toma o livrinho aberto da mão do Anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra”. Fui, pois, ao Anjo e lhe pedi que me entregasse o livrinho. Então ele me disse: “toma-o e devora-o; ele te margará o estômago, mas em tua boca será doce como mel” (...) “É necessário que continues ainda a profetizar contra muitos poso, nações, línguas e reis”.
O livro do Apocalipse é cheio de símbolos e, ao invés de falar do futuro, fala do presente: do presente da comunidade cristã do final do primeiro século e do presente da nossa vida de cristãos. Nesse caso, você sugere que indicamos qual seja o simbolismo presente nesse “comer o livro”, que aparentemente é doce como o mel, mas que depois de torna amargo, quando chega ao estômago.
Como muitas outras passagens do Apocalipse, também nesse caso o Antigo Testamento é fundamental para entender o seu significado. Dessa vez nos ilumina o texto de Ezequiel 3. NO capítulo 2, Ezequiel tem a visão do “livro” e é enviado aos israelitas para repassar a Palavra do Senhor IHWH. Logo no início do capítulo 3 Ezequiel é convidado a comer o rolo, o livro. O profeta come e afirma: “na boca parecia-me doce como o mel”. E então o profeta é enviado: “dirige-te à casa de Israel e transmite-lhe as minhas palavras”.
Aplicando a visão de Ezequiel àquela de João, em Apocalipse, podemos ver que ambos os personagens são chamados a assimilar a Palavra de Deus, simbolizados com o “comer o livro”. E ambos têm a missão di difundir essa Palavra assimilada. A doçura da Palavra de Deus indica que no começo, quando se recebe a Palavra, como vemos em Mateus 13,20, é muito agradável, doce. Mas, em seguida, como afirma também a passagem de Mateus, da parábola do semeador, a Palavra se torna amarga, por causa do sofrimento que provoca (veja Mateus 13,21).
Difundia a Palavra no tempo do autor do Apocalipse era uma tarefa complicada. A comunidade era perseguida pelo poder político, pelo Império Romano e ser cristão significa um grande risco para a própria vida. Segundo a visão, a Palavra precisa ser não só vivida, mas anunciada ainda a muitos povos, nações, línguas e reis (Ap 10,11), com a consequência do sofrimento, do “amargo”.
Portanto, dizer que o livro é “doce” e “amargo” significa reconhecer que a Palavra de Deus (livro) é doce porque dá razão à própria vida, realiza a pessoa, colocando-a junto a sua natureza divina, mas ao mesmo tempo é “amarga” porque implica em uma dedicação extrema, a sua difusão, coisa que pode causar conflitos e complicações.