Encontramos essa passagem em Mateus 8,20 e Lucas 9,58:
“As raposas têm tocas (ou covis) e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”.
Em ambos os Evangelhos, essa foi a resposta que Jesus deu a alguém que o queria seguir, “um escriba” em Mateus e “uma pessoa” em Lucas: “Eu te seguirei para onde quer que vás”.
É uma passagem bem conhecida e pode ter várias linhas de interpretação. A mais evidente é o desafio que representa o seguimento de Cristo. De fato, a frase aparece no contexto de pessoas que se mostram com muita disposição para seguir o Mestre, mas são advertidos sobre as dificuldades pelas que passa o próprio Cristo, que tudo pode, e que serão também as dificuldades dos seus discípulos. Essa não é, obviamente a vontade de Deus, mas a situação de contradição que existe no mundo. Deus gostaria que ao ser humano fosse concedido uma vida tranquila, como aquela dos animais que, embora não tenham a precaução de construir casas e de pensar no futuro, se arranjam de maneira digna: até as raposas têm tocas, suas casas, e os passarinhos ninhos, como também lembra o Salmo 84,4: “Até o pássaro encontrou uma casa, e a andorinha um ninho para si, onde põe seus filhotes”.
Seguir a Cristo não comporta segurança, não traz prazeres, mas leva à instabilidade e traz consigo desafios. O desafio maior foi enfrentado por cristo, que morreu na cruz. E essa passagem recorda esse momento da missão salvífica de Jesus, dito aqui “filho do homem”, quando diz que não tem onde reclinar a cabeça. De fato, pregado na cruz, na hora da morte, hora de “reclinar a cabeça”, não possuiu nenhum apoio, pois a cruz não permite que a pessoa crucificada apoie a cabeça.