Não sei bem se entendi a sua pergunta. As atividades do dia de um romano coincidiam, mais ou menos com o movimento solar. Dizem que ao meio-dia costumavam fazer uma refeição mais leve e às 15 havia a janta, depois da qual, quem podia, fazia um repouso. Mas esse ritmo é bastante discutido e obviamente depende do ponto de vista do protagonista. Aquele mencionado acima podia ser de um romano da cidade, mas certamente não valia para um agricultor.
Entrando concretamente na sua pergunta, podemos dizer que o episódio do encontro de Jesus, no poço de Jacó, com a Samaritana, que é contado somente por João, não pode ser lido sob a mera perspectiva do movimento do dia vivido pela população daquele tempo. Mesmo assim, o “meio dia”, como encontramos em Jo 4,6 (“era por volta da hora sexta”) tem a sua importância. Certamente pode significar a hora do dia, mas é especialmente usado para indicar algo mais profundo, podendo ser lido no contexto do tradicional tema da “hora”, em João.
Lembremos do milagre das Bodas de Caná, quando Jesus diz a sua mãe: “ainda não chegou a minha hora” (João 2,4). E em várias outras passagens lemos que a “hora” de Jesus chegou (veja 4,23; 12,27). Para João, a “hora” é a manifestação do poder messiânico de Jesus, um momento particularmente importante, cujo culmine é a paixão e glorificação de Jesus(Cf. Jo 7,30; 8,20; 12,23-27; 13,1; 17,1; 19,27), quando Cristo redime a humanidade.
Hora Sexta | Meio-dia – Jesus e a Samaritana
Podemos aplicar a lógica da “hora” de João a esse encontro, mesmo sendo apenas uma sugestão de leitura e não em si uma interpretação que exclui outras.
Em João, outro momento que se menciona a “hora sexta” é em 19,14, quando Pilados entrega Jesus aos acusadores para que seja crucificado: “eis o vosso rei”.
No caso da Samaritana, a "hora sexta", incomum para ir pegar água no poço, pode ser vista sob duas perspectivas. A primeira é bastante material: enfatiza o desejo da samaritana de evitar encontros com as outras mulheres que iam ao poço, quase sempre em grupos, em horas certamente mais frescas. Mas provavelmente é a segunda que deve nos interessar mais: é possível discernir uma referência velada à narrativa da paixão, na qual, além da sexta hora, há também uma menção à sede de Jesus (19,28).