Mateus, como sabemos, é um dos dois evangelistas, junto com João, que foi também apóstolo. Esteve, portanto muito próximo dos eventos que conta sobre a vida de Jesus. E como sabemos a partir do próprio Evangelho, foi chamado por Jesus para segui-lo enquanto estava exercendo a sua profissão de cobrador de impostos. Essa atividade era tida como ingrata, pois ele estava a serviço do Império Romano, recolhendo taxas para o imperador.
Não sabemos exatamente se o Evangelho saiu integramente das mãos de Mateus. É certo que não surgiu do dia para a noite, mas foi o resultado de um longo processo em que colaboraram provavelmente muitas pessoas. Acima de tudo, é fruto da comunidade cristã a que Mateus pertencia, da sua memória e investigação, até à edição final que talvez foi feita por um escriba. O autor era de origem judaica, conhecia muito bem a Torá e estava muito familiarizado com a língua grega, língua que utilizou na sua obra.
Do Evangelho segundo Mateus não se sabe nem a data nem o local da sua composição: provavelmente nasceu na região da Síria, nos anos 80. Podemos dizer com segurança que foi composto depois da destruição do templo de Jerusalém, no ano 70. Eram anos muito difíceis; homens fiéis à tradição, como os escribas e fariseus, tentavam restaurar o judaísmo em torno da lei de Moisés; por outro lado, os seguidores de Jesus dedicavam-se a fundar comunidades cristãs entre os judeus da diáspora.
Mateus, portanto, escreve para aqueles que vêm do mundo judaico, que se sentem "filhos de Abraão" e foram instruídos na lei de Moisés. A eles anuncia que Jesus não é um falso profeta executado na cruz, mas o verdadeiro Messias, ressuscitado por Deus; que Jesus não é um falso mestre, mas o novo Moisés, portador de uma nova lei de vida e gerador de um novo Israel: a Igreja, convocada pelo Ressuscitado. Assim, após a destruição do Templo, que representava a morada de Deus no mundo, é agora Jesus, o filho amado de Deus, que é o novo Templo, a nova presença de Deus no mundo explicitada na Igreja.
Os destinatários do Evangelho de Matues são os cristãos provenientes do judaísmo e, por isso, o autor está continuamente preocupado em mostrar como a vinda de Jesus à nossa história foi há muito preparada e anunciada pelo Antigo Testamento e como Ele cumpre as profecias. Expressões como "isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor através do profeta" percorrem toda a obra, inserindo-se ocasionalmente na história quase como uma espécie de fio condutor.
Assim, Mateus organiza o seu escrito com base na Lei, a Torah da tradição judaica: uma vez que a Torah consiste principalmente nos primeiros cinco livros da Bíblia, o chamado Pentateuco, Mateus estrutura a sua obra em cinco grandes discursos (o que Jesus diz), inserindo entre um e outro o relato das suas ações (o que Jesus faz). Esta estrutura literária serve muito bem para mostrar a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento e para sublinhar a novidade da graça trazida por este último, verdadeiro cumprimento do primeiro, como diria Jesus: "Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas sim cumprir" (Mt 5,17).
A comunidade a que Mateus se dirige é uma comunidade que ainda está ligada a toda a tradição judaica; os membros da comunidade devem fazer uma mudança radical, já não Moisés, que deu a lei em cinco livros, mas Jesus de Nazaré, que deu o verdadeiro programa de vida nos discursos.