Os judeus, no tempo de Jesus, tinham muitas festas religiosas. As festas eram um modo de ligar a vida quotidiana com a fé em Deus e, por isso, cada evento importante durante o ano era uma oportunidade para reafirmar a ligação da vida com o dom de Deus. Era um “dia bom”, yom tob, em hebraico. Temos assim, por exemplo, o ano novo (rosh hashanah), o dia do perdão (yom kippur), o festival das luzes (chanuká), festival das sortes (purim) e inclusive o dia de sábado (shabbat).
Existem, todavia, três festas muito importantes, que são determinadas a partir de Deuteronômio16 (veja também em Ex 23,14-16; Ex 34,18-22 e Lv 23). Estas são: Páscoa, Pentecostes, Tabernáculos. Elas são ditas “festas de peregrinação”, pois, a partir do rei Josias, como se vê em 2Reis 23, era exigida a presença de todos os homens israelitas em Jerusalém. A festa da Páscoa e de Pentecostes são celebradas também por nós cristãos, embora com significado diverso.
No Antigo Testamento e para Jesus e os apóstolos, essas três festas tinham o seguinte significado:
Páscoa(em hebraico Pesach = passagem) era a recordação da “passagem” do anjo no meio do povo escravo no Egito, marcando as casas dos judeus, destinando-os à libertação que foi operada através de Moisés, que tirou o posso do Egito e o conduziu à terra Prometida.
A festa dos tabernáculos (em hebraico Sukkoth = tendas) recorda os 40 anos de vida dos hebreus no deserto, quando viviam embaixo de tendas, em caminho para a Terra Prometida.
Pentecostes(Shavuot, em hebraico = semanas). Originalmente era uma celebração ligada à colheita do trigo e lembrava o dever de dar as primícias da colheita a Deus. É dita “das semanas”, pois a Bíblia comanda que sejam contadas “7 semanas”, a partir do segundo dia da Páscoa. Segundo a tradição rabínica, essa festa marca também a revelação dos 10 mandamentos a Moisés no Monte Sinai.
Especialmente a Páscoa e Pentecostes tem muito a ver com o cristianismo, pois embora os judeus continuam celebrando essas festas com o significado original, nós cristãos demos novo sentido a elas ou, acrescentamos um significado. Para nós, a passagem definitiva de Deus no meio do seu povo se deu através da morte e ressurreição de Cristo. A Páscoa definitiva, para nós cristãos, é a passagem do filho de Deus no nosso meio, que com o seu sangue traz a salvação pra todos nós. Portanto, a Páscoa hebraica prefigurava a Páscoa em Cristo, que celebramos cada ano, próxima à data em que os judeus celebram a Pesach.
Pentecostes, para nós cristãos, é a celebração do dom do Espírito Santo, enviado aos apóstolos reunidos no cenáculo, com medo, depois da assunção de Cristo. Essa é a Lei que guiará a comunidade cristã nascente, que iluminará o caminho da Igreja pelos séculos.
Há uma leitura da Bíblia, do Antigo Testamento, que procura ver tudo de maneira alegórica, como uma prefiguração daquilo que será Jesus. Essa perspectiva enriqueceu muito o entendimento da Bíblia, mas pode também provocar um certo “vazio” em relação ao primeiro testamento. Sabemos bem que toda a escritura, antigo e novo testamentos, são úteis para nós. O Antigo Testamento é um caminho que leva a Cristo.