Sabemos que aos descendentes de Levi, como tribo, não herdaram uma porção de terra, quando da divisão da Terra Prometida. Por outro lado, os levitas não ficaram completamente sem casa, pois a eles foram atribuídas cidades nas quais podiam morar (Josué 14,4).
Uma ideia comum, como você menciona na pergunta, é que os levitas nunca possuíam um terreno. Mas essas duas passagens que você menciona coloca em dúvida essa pressuposição. Ao menos parece que podiam ter terrenos nas vizinhanças da cidade a eles atribuídas.
Em Jeremias 31,6-8, o Senhor diz para o profeta, que era da tribo de Levi, para comprar um terreno do seu tio, em Anatot, que era na zona de Benjamim. Mas lembramos que conforme diz Josué 21,18, essa terra foi dada aos filhos de Aarão como parte da herança de Levi. Portanto, Jeremias efetivamente tinha o “direito de resgate” dessa terra. Isso deriva daquilo que é dito em Levíticos 25,32: “quanto às cidades dos levitas, às casas das cidades de sua possessão, têm eles um direito perpétuo de resgate”. Isso mostra que segundo a Tora, que os levitas podiam possuir terras, mas sempre ligadas às cidades a eles atribuídas.
Provavelmente isso nos ajuda a entender Atos 4,36-36: “José, a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que quer dizer ‘filho da consolação, era levita originário de Chipre. Sendo proprietário de um campo, vendeu-o e trouxe o dinheiro, depositando-o aos pés dos apóstolos.”
Alguns veem nessa ação um arrependimento por parte de Barnabé de ser proprietário; tendo percebido o seu erro, vende a propriedade que não podia possuir. Mas é mais provável que ele tinha uma propriedade que era legal, que fazia parte da herança de uma cidade levítica. Nesse caso, ele livremente doa uma propriedade que podia possuir. É mais provável que essa narração de Lucas considere principalmente a liberdade de Barnabé em doar seus bens e assim enaltecer a generosidade dos primeiros cristãos.