THEISSEN, Gerd. O Novo Testamento. Vozes: 2007. 149 p.
Título original: Das Neue Testament. Verlag C.H. Beck oHG, München, 2006.
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Chega às mãos do público de língua portuguesa, mais uma obra deste conceituado exegeta, teólogo e germanista protestante, estudioso especialista do Novo Testamento e professor em Heidelberg (Alemanha). Com tradução de Carlos Almeida Pereira, "O Novo Testamento" é uma obra de importância fundamental para os que buscam "re-visitar" os principais temas que envolvem este corpus da Bíblia. Não raro, conceitos e temas do Novo Testamento são usados até de modo dogmático sem recorrer aos textos com a devida atenção gerando falácias exegéticas e comentários que surgem por "ouvir dizer". Ler Theissen, agora, significa passar em revista os principais caminhos da formação do Novo Testamento de forma sóbria e com a clareza que lhe é peculiar. A obra, relativamente curta, divide-se em 9 partes:
I. O Novo Testamento e suas formas literárias: uma recuperação do "rosto" do Novo Testamento em seu caráter de Aliança Nova buscando suas características literárias dentro dos principais gêneros. Um trabalho importante uma vez que muitas obras introdutórias não dedicam páginas suficientes a estes elementos. Sintética e profundamente, Theissen o faz.
II. Jesus de Nazaré: uma apresentação de Jesus e considerações sobre o conteúdo de sua pregação. A Tradição dos sinóticos e a influência dos ditos dos lóguia (Q).
III. A Tradição jesuânica na primeira geração: esta parte continua a segunda onde o autor dedica boas linhas à fonte dos evangelhos sinóticos. Refaz o percurso que pode ter originado as principais linhas das pregações apostólicas nos primeiros períodos depois da Páscoa e que viriam, assim, a culminar nos Evangelhos.
IV. Paulo de Tarso: uma longa consideração sobre esta grande figura do cristianismo nascente. Theissen pergunta quem é ele e tece observações de cunho histórico para o palco em que aparece o grande pregador. Ao final da seção, apresenta uma cronologia - onde avisa não ser de forma alguma consensual (p.45) - sobre a vida de Paulo.
V. Os indícios da literatura epistolar na primeira geração: é uma das partes mais longas da obra ocupando boas 23 páginas. Recoloca algumas epístolas paulinas nos seus devidos lugares observando - até de forma bem incisiva - a situação dos destinatários, os principais temas e as questões teológicas mais prementes. Trabalha, nesta ordem: 1a Tessalonicenses, Gálatas, Filipenses, Filêmon, as duas aos Coríntios (com uma excelente introdução) e Romanos.
VI. Evangelhos Sinóticos e Atos: a nova forma literária da segunda e terceira gerações: no coração da obra, um dos principais assuntos para a exegese do Novo Testamento. Começando por Marcos e depois passando por Mateus e Lucas, o autor lança questões fundamentais para a Teologia em torno dos sinóticos e sua formação literária. A este conjunto, insere os Atos como dupla obra lucana.
VII. As cartas pseudo-epígrafas: inicia explicando o conceito de pseudo-epigrafia e enumera quais são aquelas que são consideradas assim e o seu momento de florescimento. A seguir, elenca esse conjunto comentando a cada uma delas. É preciso conferir esta parte da obra com muita atenção.
VIII. Os escritos joaneus: o elo entre a literatura evangélica e a epistolar: Como o título desta parte o sugere, o leitor(a) deparar-se-á com as proposições de Theissen sobre esta que é uma pergunta quando se toca o problema dos escritos joaninos. Após breve introdução, discorre sobre a questão da origem do evangelho joanino perguntando pelo Egito, nordeste da Palestina ou Síria. Observa elementos e testemunhos externos ao texto bem como encadeamentos internos que possam acusar o seu surgimento. Um ponto interessante é a sugestão de um evangelho em duas edições. A seguir, o traçado leva em conta as 3 epístolas e o Apocalipse. É necessário ler!
IX. O caminho para o Novo Testamento como unidade Literária: nesta última parte, o autor discorre sobre a formação do Novo Testamento. Estende-se largamente sobre as "fases" de sua formação bem como a questão do cânone. É importante ter atenção em sua "lista aberta" (p.139) sobre os motivos básicos do Novo Testamento.
Numa resenha pretende-se, sempre, sugerir ao leitor que o mesmo leia o livro e não esmiuçar toda a obra. Em razão de espaço e de metodologia, aceno para a necessidade de uma leitura dessa obra a todos(as) que quiserem enriquecer seus conhecimentos e ler seriamente sobre os problemas e fascínios que estão na gênese desta parte da Bíblia.