O nosso leitor continua na sua pergunta:
Sempre ouço dizer dela como "medianeira" e frases do tipo "peça à mãe que o filho atende" e a própria reza que diz: Rogai por nós. Se é assim como é que fica então o que está registrado em I Timóteo 2:5 que diz: "Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens" Ora, se ela pode interceder, é porque está viva, se ela está viva, por que diz as Escrituras que Cristo é as primícias dos que dormem conforme ICor 15:20; e para estar viva ela teria que ter sido ressuscitada, mas a ressurreição ainda não se deu para os que morreram em Cristo I Tessalonicenses 4:16.
A primeira parte da sua pergunta introduz a problemática da relação entre a mediação de Maria, como é afirmada claramente pela Tradição da Igreja Católica (Lumen Gentium, 62, onde entre as características de Maria no culto foi inserida aquela de “mediatora”) e a afirmação lembrada em 1Timóteo 2,5: “há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus”.
Porém, segundo a teologia católica, essas duas afirmações não são contrastantes entre si, pois, como lembra uma outra encíclica (Redemptoris Mater, 38), a mediação de Maria é intimamente ligada à sua maternidade e não obscura a única perfeita mediação de Cristo, ou melhor, inclusive ajuda a eficiência da mediação, facilitando a união dos que crêem em Cristo.
Essa é a doutrina católica, mesmo se do ponto de vista bíblico não encontramos uma afirmação direta no sentido da mediação de Maria.
Se do ponto de vista bíblico, a primeira consideração tem uma lógica, as outras duas objeções precisam ser esclarecidas em base ao significado dos textos. Em 1Cor 15,20 o apóstolo Paulo anuncia que Cristo foi ressuscitado dos mortos e é primícia daqueles que estão mortos. O termo “primícias” (aparché) indica a função protótipa de Cristo em relação a toda a humanidade: Ele é o primeiro de uma grande série de mortos que tornarão à vida. Cristo é chamado “primícias daqueles que dormem” porque com ele começa a ressurreição de todos. Portanto também Maria, participando na vida do Ressuscitado, está viva e pode interceder por nós. Segundo a doutrina católica, exercita uma ação de mediação enquanto Mãe de Cristo.
O texto de 1Tessalonicenses 4,16 deve ser compreendido em outro sentido. Na primeira carta aos Tessalonecenses, a mais antiga entre aquelas escritas por Paulo, nota-se muito claramente o problema da parusia, ou seja, da vinda final do Senhor, como alguma coisa que está prestes a acontecer. A comunidade dos cristãos de Tessalônica se perguntava: ‘quando chegar o Senhor o que vai acontecer com quem já morreu’? Paulo responde: os ‘mortos em Cristo’, ou seja aqueles que morreram como crentes em Cristo e portanto participam da sua morte e da sua ressurreição, não terão nenhuma desvantagem em relação àqueles que estarão vivos no momento da vinda do Senhor. Se lemos o versículo 4,14 encontramos claramente uma afirmação nesse sentido: “Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também os que morreram em Jesus, Deus há de levá-los em sua companhia.”
Nas cartas sucessivas de Paulo, a idéia da eminente parusia será aos poucos substituída com a afirmação da força da ressurreição para todos os que crêem em Cristo, como por exemplo em Gálatas 2,19-21.