Everton, a "Bíblia dos protestantes", como você chama, pode ser definida como a versão de Martin Lutero (1483-1546). Digamos de imediato que a obra bíblica de Lutero não significa uma nova Bíblia, mas apenas uma tradução. A novidade é a bíblia traduzida em língua vernácula, nesse caso o alemão. Tão pouco nisso Lutero foi pioneiro, pois na sua época já existiam 18 traduções em alemão da Bíblia, aprovadas pela igreja católica. A novidade é a fonte: todas as traduções católicas vernáculas de então eram realizadas a partir do texto latim da Bíblia, a versão realizada por Jerônimo, chamada Vulgata. Lutero, invés, fez a sua tradução a partir dos textos originais, isto é, do grego e do hebraico.
Começou a sua obra em 1521, a partir do Novo Testamento, no castelo de Wartburg. Em 1522 foi publicado o Novo Testamento. Em 1523 foi iniciada a tradução do Antigo Testamento, que foi completada só em 1534. Porém na tradução do A.T. Lutero foi ajudado por outros estudiosos: Johannes Bugenhagen, Justus Jonas, Caspar Creuziger, Philipp Melanchthon (Melantone), Matthäus Aurogallus, e Georg Rörer.
A obra completa, pubblicata por Hans Lufft, se chamava Bíblia, das ist die gantze Heilige Schrifft Deudsh (Bíblia, ou seja a completa santa escritura em alemão) e era formada por 6 volumes.
A fonte a partir da qual Lutero fez as suas traduções, para o Novo Testamento foi o texto grego editado por Erasmo da Rotterdam, publicado em 1519. Para o Antigo Testamento se apoiou no texto hebraico da assim chamada Bíblia de Berlim, imprimida na Itália (Brescia), em 1494, que era uma revisão da famosa Bíblia de Soncino, de 1488. Porém, quanto ao Antigo Testamento, Lutero se apoiou também no latim da Vulgada e ainda em uma tradução hebraico-latim de Sanctes Pagninus. A ordem dos livros que Lutero deu à sua Bíblia é a mesma presente na Vulgata, ou seja, a mesma daquela dos católicos.
A diferença com a Bíblia dos católicos existe por causa da questão do cânon, isto é, a lista dos livros que são considerados como palavra inspirada por Deus (ver artigo sobre o cânon). Lutero não retinha em alta consideração os livros de Ester, Carta aos Hebreus, Carta de Tiago, Carta de Judá e Apocalipse. Chamou a Carta de Tiago de "carta de palha". Sobre o Apocalipse chegou a afirmar que "não via como o Espírito Santo pudesse tê-lo produzido". Apesar disso não excluiu tais livros da Bíblia. O problema existe, porém, com certos livros do Antigo Testamento: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus, ao lado de partes de Ester e Daniel (i. é, Est 10,4-16,24; Dn 3,24-90; 13-14). Esses livros muitas vezes não aparecem nas bíblias dos protestantes, enquanto que existem naquelas dos católicos. Porém na tradução de Lutero eles estavam presentes, mas em uma sessão especial. De fato ele não os considerava sem valor, embora não serviam, segundo a sua teologia, para fundamentar a fé. Lutero chamou esses livros de "Apócrifos". Eram livros escritos em grego e que, portanto, não existiam na Bíblia Hebraica. Invés existiam na Bíblia dos Setenta, que foi a tradução usada na comunidade primitiva dos cristãos (Saiba mais sobre a Setenta).

As edições das bíblias protestantes em português, muitas vezes, são fruto da tradução feita por João Ferreira de Almeida, um português protestante que morreu em 1693 na Indonésia.

Existe muito preconceito em relação à bíblia de confissões as quais não pertencemos. Existem traduções bem feitas seja entre os evangélicos que entre os católicos. Outras vezes, é verdade, são encontramos traduções que deixam a desejar, também nesse caso entre os protestantes e católicos. Podemos ler, de modo indiferente, tanto a bíblia católica quanto aquela dos protestantes. Basta termos consciência da diferença, da ausência de alguns livros naquela dos protestantes e lembrar que a Bíblia que temos em mãos é sempre uma tradução e não o texto original.