Uma interpretação a partir do texto

“Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei” Gálatas 4,4

 

O versículo começa com a conjunção adversativa “porém”, que retoma os versículos anteriores 1,4; 3,1. 13. 26-28. O aoristo do indicativo “chegou” parece ser a construção gramatical mais correta, dando a idéia de uma ação realizada no passado como um evento único. Este é o momento a "plenitude do tempo" indicado pelo aoristo “chegou”. O verbo “chegar” é usado por Paulo para preanunciar a chegada daquilo que foi anunciado na escritura, isto é, a chegada do tempo novo, do tempo messiânico a chegada do Filho de Deus, Jesus. A expressão "plenitude do tempo": indica a chegada do tempo escatológico ou messiânico encerrando um longo período de séculos de espera da humanidade. (Mc 1,15; At 1,7; Rm 13,11; 1 Cor 10,11; 2 Cor 6,2; Ef 1,10; 1 Pd 1,20). O termo “plenitude” no versículo 4,4 mostra-nos o sentido de cumprimento. O significado teológico vem do contexto que envolve.

 

Texto paralelo de Ef 1,10

Um texto paralelo a este encontramos em Paulo aos Efésios 1,10, podendo nos ajudar a entender o significado de "plenitude do tempo". Paulo assim se expressa na carta aos Efésios: “para levar o tempo a sua plenitude” Nas duas expressões de Paulo em Gl 4,4 e Ef 1,10, encontramos uma diferença na tradução da palavra “tempo” vindo do grego como “cronos” e “kaipós” e com tradução no plural por “tempos” coincidem em seu significado: indicando a “plenitude do tempo”. A expressão de Gl 4,4 “plenitude do tempo” tem o significado: no "término do tempo” No tempo pré-estabelecido, Deus enviou o seu Filho Jesus Cristo, o verdadeiro "eschaton”, que emerge no meio da humanidade para trazer a liberdade; e a expressão “os tempos"são os momentos designados por Deus para completar seu plano salvífico, os quais se sucedendo um após outro completam a medida estabelecida por Deus e atinge a plenitude, a etapa prefixada, que é aquela de Cristo. Também olhando o significado em seu conjunto, o tempo “Cronos” se desenvolve e completa-se progressivamente até atingir a plenitude.

 

Sentido escatológico

0 sentido escatológico que envolve esta frase é muito forte e podemos interpretar da seguinte maneira: Deus Pai envia seu Filho Jesus para salvar a humanidade imersa no pecado. Com esta iniciativa de Deus o tempo atinge a plenitude. Não se olha a aspecto durativo do tempo, mas o conteúdo do tempo. Entendemos com isto que o tempo não é cancelado, mas sim se evidencia a idéia escatológica da Teologia Paulina. Deus irrompe diretamente na história da humanidade com o evento Jesus: O verdadeiro "eschaton”. Agindo desta maneira, realiza-se a ação escatológica com a humanidade. Seu plano completa uma nova etapa da história da humanidade dando inicio a etapa que chamamos o "último tempo". Do contexto podemos deduzir a mensagem deste versículo. Da literatura paulina, Ef 1,10 é a que mais ajuda na compreensão:

"para levar o tempo à sua plenitude: o projeto de Cristo recapitular todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra".

 

Olhando o Antigo Teatamento:

No Antigo Testamento o livro de Daniel (2,24-29) fala do segredo escatológico, isto é um anúncio misterioso de um acontecimento futuro estabelecido por Deus, cuja revelação é reservada somente a Ele:

-"Enquanto estavas sobre teu leito, ó rei, acorriam os pensamentos sobre o que deveria acontecer no futuro, e aquele que revela os mistérios te deu conhecer o que deve acontecer"(Dn 2.29);

Paulo precisa muito bem a expressão “o seu Filho”: entendendo como o Filho do Pai; “nascido de uma mulher nascido sob a Lei” : as duas expressões “nascido” e “uma mulher” e “nascido segundo a lei”referem-se (dependem) do verbo “ enviou”. Sendo provavelmente particípios conjuntos modais, circunstanciais, indicam realmente a maneira pela qual a obra de Deus realizou-se. Sendo sujeito “Deus” e o agente que realiza a obra de Deus “o filho Seu”.

 

Como resumo conclusivo podemos dizer:

A expressão “plenitude do tempo”sublinha o caráter histórico escatológico da encarnação, a qual acontece em um ponto preciso da história humana (o aoristo “chegou”) coloca em evidência seu valor messiânico; “enviou Deus”: significando verbalmente enviar expedir, e interpreta-se com a descrição da missão do Filho Jesus enviado pelo Pai. Um verbo de uso comum no helenismo e muito usado na LXX aparece no versículo G1 4,4 e 4,6; entretanto, no Novo Testamento seu uso é raro, somente o encontramos em Lucas e nos Atos dos Apóstolos. A expressão “plenitude do tempo” confirma a espera da humanidade pela sua salvação e a concretização desta obra pelo filho de Deus Jesus no momento designado por Deus.