O Novo Testamento apresenta duas genealogias de Jesus, uma em Mateus e outra em Lucas.

Mateus começa o seu elenco numa lingua que vai até o Gênesis: "Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão". Em seguida descreve a linha genealógica, com 42 gerações, de Abraão até Cristo. (Mateus 1,1-17)
Lucas, depois do batismo de Jesus (3,23-28), diz que ao iniciar o ministério, Jesus tinha mais ou menos trinta anos e era, conforme se supuinha, filho de José. Então, a partir de José, vai para trás por 70 gerações até Abraão, filho de Deus. E depois continua até Adão.

As duas genealogias, de Abraão até Davi, são praticamente idênticas. De Davi até José as duas genealogias se dividem, pois Mateus segue adiante através da linha do filho de Davi, Salomão e os sucessivos reis de Judá, até Jeconias, enquanto que Lucas procede através de Natã, que é filho de Davi com Betsabéia e ignora a linha real. Depois de Davi, os únicos nomes comuns são Salaciel e Zorobabel, protagonistas depois do exílio em Babilônia.

Quanto à falta dos descendentes, em Mateus, de Abraão até Adão, provavelmente não foram citados por que eram bem conhecidos. De fato a lista, que é citada por Lucas, pode ser lida em Gênesis 5,3-32; 11,20-26 (e também em 1Crônicas 1,1-4.24-27).

Se a genealogia de Jesus é levada a sério, causa problemas. Além do mais há nomes que aparecem na lista que invés não constam na Bíblia. Parece que o elemento importante da genealogia é que Jesus é um descendente de Davi. De fato, era conhecido por todos, durante o seu ministério, que ele provinha da linhagem de Davi (Marcos 10,47; Romanos 1,3; Hebreus 7,14). Os dois evangelistas dizem que essa ligação com Davi é estabelecida através de José, porém também eles afirmam que José é apenas pai de iure de Jesus e não de facto.

Alguns exegetas dizem que enquanto que Mateus quer claramente dar a genealogia real de Jesus, Lucas pretenderia dar aquela carnal. Mas nesse caso deveria chegar a Maria e não a José. Alguns, para confirmar a suposta intenção de Lucas, dizem que é Maria que descende de Davi, como seria evidente na anunciação, através das palavras do anjo Gabriel (Lucas 1,32). De qualquer forma, se Lucas quer mostrar que é Maria que descende de Davi, não diz isso claramente.

Creio que a intenção básica das duas genealogias é somente afirmar o título de Jesus como descendente de Davi, cumprindo assim as profecias que prometiam um rei definitivo para Israel. Além disso poderíamos ver também a intenção de dizer que Jesus faz parte de toda a humanidade e tem uma íntima ligação com todas as gerações que o antecederam.