A pequena carta (25 versículos!) atribuída a um irmão de Tiago, chamado "irmão do Senhor"parece mais com uma homilia do que uma carta propriamente dita, embora contenha alguns elementos típicos do gênere leterário das cartas.

A intenção básica do autor deste escrito era falar sobre a salvação (v. 3), mas por causa de infiltrações de falsos mestres na comunidade, que ensinavam uma falsa doutrina, ele muda de objetivo e defende a fé transmitida pelos apóstolos. Esses falsos mestres são definidos como "homens sem Deus, ímpios, que convertem a graça de Deus num pretexto para licenciosidade e negam a Jesus Cristo, nosso único mestre e Senhor."(v. 4) É difícil definir com maiores detalhes estes hereges, pois existem apenas insinuações no texto. Provavelmetne eram caracterizados não só por desvios doutrinais, mas também pela imoralidade. Alguns exegetas hipotizam a existência de tendências sincretistas que, dando exclusiva importância ao espírito, retinham inútil o mundo criado e o corpo, deixando-se levar pelo lassismo moral, sobretudo em relação à esfera sexual. As pessoas que defendiam essa idéia julgavam sem importância a qualidade moral de suas vidas, pois diziam que se a graça de Cristo já os tinha salvado, já possuíam definitivamente o espírito, que nada podia tirar-lhes.

É nesse contexto que deveríamos ler a menção ao "banquete"(em grego agape), presente no versículo 12 da carta de Judas e também em 2Pedro 2,13. Esse vocábulo é típico do cristianismo nascente e aparece em diversos textos do novo testamento. A palavra em si significa "amor fraterno", usado já por Platão para distinguir da filia e de eros. No cristianismo ganhou um significado especial, expressão do amor de Deus para conosco (Romanos 5,5; 13,10). De fato muitas vezes é traduzido simplesmente com a palavra "amor"(O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece "“ 1Coríntios 13,4), perdendo um pouco o significado particular que possui. Os dois textos que você menciona testemunham que o termo adquiriu entre os primeiros cristãos o sentido de refeição em comum, feita com espírito de fraternidade. Parece que durante o I século depois de Cristo a celebração da eucaristia fosse precedida pelo agape, uma forma de refeição comunitária e, como tal, constituía parte da liturgia. Graças aos abusos, como os que parecem mencionar Pedro e Judas, o agape foi separado da celebração eucarística.