Desculpa, mas respondo apenas indiretamente a sua pergunta, convidando a todos nós a uma reflexão profunda sobre nossas aspectativas derivantes do nosso seguimento de Cristo. A minha intenção é ressaltar que a prosperidade e o "se dar bem" não derivam da nossa fé, que a prosperidade material não pode ser ligada ao nosso seguimento de Cristo. O seguimento de Cristo conduz à vida eterna, a uma vida que dura.

 

A Bíblia é um espelho da vida real. Por isso nela encontramos pessoas bem e mal sucedidas. O problema é que há exemplos de pessoas fiéis que sofrem, que até mesmo perdem a vida, sobretudo no Novo Testamento. Pensemos, por exemplo, nos apóstolos, em Estêvão, o primeiro mártir, Pedro, Paulo... Por outro lado, é verdade que há personagens que, por causa da própria fidelidade, gozam de um bem estar. Um exemplo plástico é Jó, que depois de muito sofrer teve os seus bens em dobro.

 

A teologia da retribuição é um dos tópicos importantes da moral cristã. É normal julgarmos que o bem é pagado com o bem e o mal com o mal. Para colocar uma base crítica a essa idéia é importante nos dar conta que há tantas pessoas boas que sofrem, que vivem fazendo o bem, com generosidade, mas não tem nenhuma consequência, em termos de prêmios materiais, nas próprias vidas. Obviamente, se conversamos com elas veremos que são pessoas realizadas, felizes, embora sofram. Não é masoquismo, mas o ponto de partida para fazermos uma análise da teologia da retribuição.

 

Falar em teologia da retribuição significa ter presente 3 elementos: lei, retribuição e justificação. No Antigo Testamento é forte a idéia segundo a qual a observância da lei nos conduza à justificação, à felicidade. O Salmo 37, por exemplo, diz que a felicidade do ímpio é passageira, enquanto que a verdadeira felicidade aqui na terra é reservada a quem pratica o bem. Todavia, o horizonte cristão se alarga e esperamos na Vida Eterna.

 

Fidelidade e recompensa, na relação de Deus com o ser humano, não pode ser entendica da mesma maneira que uma relação de trabalho entre o patrão e o empregado. A norma vige é o amor de Deus, ou seja, não é a justiça que calcula a recompensa merecida, ma o amor de Deus que vem ao encontro da boa vontade do ser humano (veja Mateus 20). Por isso a recompensa não tem que ser esperada, pois não se ganha simplesmente com um bom comportamento. A aprovação final de Deus pode nos pegar de surpresa: então os justos perguntarão: "Senhor, quando foi que ti vimos com fome..." (Mateus 25,34-40). É claro que Jesus fala de recompensa, mas nos alerta para que não confiemos no mérito. A recompensa é prometida exatamente para quem é obediente e não para quem almeja a recompensa em si: "Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará." (Lucas 17,33).