A reencarnação é uma teoria que não tem compatibilidade com o cristianismo. Quem é cristão não deve crer na reencarnação.
A questão, contudo, não pode ser liquidada com tais afirmações. Precisamos fundamentar os motivos que nos levam a dizer isso, sobretudo por que hoje muitos cristãos acreditam na reencarnação. De fato, o Instituto GALUP, há dez anos, fez uma pesquisa na Europa e América do Norte e constatou que 23% dos cristãos acreditam na reencarnação. Pode até ser que essa média aumentaria, se fosse incluída a América Latina.

Talvez a razão imediata desse fenômeno se encontra na difusão das religiões orientais (sobretudo budismo e hinduísmo) e das seitas derivadas delas. De fato a origem da fé na reencarnação está sobretudo no oriente. Os livros sagrados das Upanisad desenvolvem o conceito de ciclos de nascimentos, chamados samsâra: existe a convincção que não se vive apenas uma vez, mas várias, e cada existência é determinada pelos efeitos das ações (karma) realizadas na vida prescedente. O ser humano, segundo essa fé, deve passar por uma série indefinida de existências, revestindo-se de vários corpos que podem pertencer ao reino mineral, vegetal, animal ou humano, até que seja completamente abandonado o vínculo do karma. Se a pessoa realiza boas obras, renascerá numa situação melhor, até que, livre da cadeia dos renascimentos, será libertado do corpo físico e irá ao Brahman, a alma do mundo.
Na história, há vários personagens que acreditam na reencarnação, desde os filósfos gregos como Platão e Plotino até aqueles latinos, como Cicerone e Virgilio. Na história da Igreja alguns falam da posição vacilante de Origenes (185-254 depois de Cristo), mas os concílios rapidamente tiraram as dúvidas, afirmando a fé cristã na ressurreição, em contraste com a reencarnação (Alexandria "“ 399 d.C; Constantinópolis "“ 543; Lião "“ 1274 e Florença -1439) .

Nós, contudo, não acreditamos na reencarnação não só por causa das afirmações dos concílios, mas principalmente por causa dos fundamentos baseados na Bíblia.
O cristianismo baseia sua fé contrária à reencarnação sobretudo nos textos de Paulo. Como no início do cristianismo existissem idéias sobre a vida depois da morte, que podiam confundir a fé, Paulo afirma na sua primeira carta aos Tessalonicenses (4,13-14): Irmãos, não queremos que ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também os que morreram em Jesus, Deus há de levá-los em sua companhia.. Portanto, os cristãos não se reencarnam, mas ressuscitam. Existe, desse modo, uma incongruência entre o ser cristão e a reencarnação.

A esta afirmação de base é necessário acrescentar outros elementos teológicos inerentes à concepção de Deus, do homem, do universo e da purificação.

Concepção de Deus
As religiões orientais vêem Deus como um ser impessoal, uma divindade que permeia e se confunde com o universo. O Deus da revelão judaico-cristã é, ao contrário, um Deus criador do universo do qual se distingue, um Deus pessoa, que cuida de cada criatura e ama sobretudo o homem, acompanhando a sua história pessoal.

Concepção do homem
No oriente predomina a idéia da dualidade: o homem tem dois elementos distintos, o corpo e a alma. Com a morte a alma abandona o corpo e toma um outro, até que não termine o ciclo de nascimento. Segundo a concepção bíblica, o homem, porém, é unidade de alma e corpo, é um único ser: o ser humano (carne, em hebraico). A Bíblia acredita na ressurreição da carne, isto é, do ser humano completo, da sua corporeidade que inclui a sua personalidade, a sua alma. Será um corpo transformado, é verdade, mas será sempre o "seu" corpo, e isto para a eternidade. De fato a carta aos Hebreus diz: É estabelecido que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem o julgamento.

Concepção do mundo e da história
Nas religiões orientais a história segue uma tragetória cíclica: existe um eterno dissolvimento e renascimento, como o ciclo das estações, no qual entra também o ser humano, com o seu nascimento e renascimento. Os cristãos, invés, vêem o mundo como criado por Deus; ele e a história percorrem uma estrada linear que conduz a um ideal. A Bíblia, em Apocalipse 21, fala de Novos Céus e Nova Terra, onde será instaurada a nova humanidade, redimida por Cristo.

Conceito de purificação
A lei do karma se baseia na necessidade de purificação no homem da negatividade da sua vida. Por isso é possível que ele se reencarne em seres inferiores, para descontar maldades cometidas em existências precedentes.
A fé baseada na Bíblia também acredita que exista a necessidade de purificação através do sofrimento para poder ver Deus face-a-face. Às vezes este estado é chamado de "purgatório", mas, deixando de lado as problemáticas que esse termo suscita, é importante notar que o cristão é consciente que passa por esse estado tendo diante de si um Deus que é pai afetuoso e misericordioso, que perdoa e abraça o pecador arrependido, conforme a parábola do Bom Samaritano.


Concluindo, podemos afirmar que o cristianismo baseia a sua fé na ressurreição de Cristo, primicia e certeza da nossa própria ressurreição, do corpo e da alma, como uma unidade. A morte deve ser acolhida com essa confiança, desejosos de unir-se a Cristo, salvador e libertador da morte eterna. Além do nosso próprio agir, a graça de Deus tem um papel importante.