Para entender a visão de Ezequiel precisamos, primeiro de tudo, entender o contexto do autor.
Ezequiel era um sacerdote que viveu no tempo em que os hebreus foram exiliados na Babilônia. Sendo sacerdote, a sua preocupação principal é com o templo, com a presença de Deus, com a observância da Lei.

As visões também são típicas do profeta: existem 4 visões que podemos assim resumir: a visão dos quatro seres vivos do carro de Javé (da qual fala a sua pergunta), o culto no templo com a multidão de animais e ídolos, os ossos que se reanimam, um templo futuro do qual brota um rio que dá vida.

Essas visões apresentam um mundo fantástico e, às vezes, a intensidade das imagens pode sufocar a mensagem que o profeta quer transmitir. A correta leitura da Bíblia pede que não nos assustemos com a linguagem usada, mas procuremos ir ao cerne da palavra. No caso da visão que você cita, não é difícil entender a mensagem de Ezequiel.

Prestemos atenção aos elementos logo no versículo 4: vento tempestuoso, nuvem, fogo. São elementos eloquentes, que falam da presença de Deus. Lembra do pentecoste, do "vento impetuoso"? E a nuvem que acompanhava o povo durante a caminhada pelo deserto? Também o fogo é o símbolo de Deus. Outro elemento, a partir do versículo 5, são os 4 seres estranhos. Eles são parecidos com estátuas típicas da Babilônia, que guardavam os palácios: têm cabeça humana, corpo de leão, patas de touro e asas de água. No Apocalipse (4,7-8) esses "animais" reaparecem. Na imagem de Ezequiel esses animais são atrelados a um carro. Aqui é evidente a ligação com os querubins da Arca da Aliança, conforme contado em Êxodo 25,18 seguintes.

Considerando esses elementos, pode-se concluir que se trata da visão do carro de Deus. A mensagem que a visão quer transmitir é destinada, sobretudo aos judeus levados ao Exílio, ou seja, que a presença de Deus lhes acompanha. De fato, se acreditava na presença de Deus no Templo. O profeta porém quer afirmar que existe a "mobilidade" espiritual de Javé, que não está apenas no templo de Jerusalém, mas que acompanha o seu povo. Essa mensagem dá coragem e incentiva o povo exilado a perseverar na vivência de sua fé.