Não sabemos muito sobre os essênios. As únicas notícias que temos vêem de escritos de Filão de Alexandria, Plínio o Velho e principalmente de Josefo Flávio. Na Bíblia não encontramos nenhuma menção dessa seita do judaísmo.
Parece que os essênios apareceram no segundo século antes de Cristo, quando o judaísmo foi culturalmente ameaçado pelo helenismo. O contexto de fundo da história desse perigo para a religião do povo hebreu pode ser lido nos Livros dos Macabeus, quando alguns judeus, até com a própria vida, defenderam as práticas religiosas judaicas. Após a guerra dos anos 70 depois de Cristo, de Roma contra os judeus, não se há mais notícias deles.
A importância desse grupo cresceu quano, em 1947, foi descoberto em Qumran, próximo ao Mar Morto, muitos manuscritos. Durante muito tempo foi dito que aqueles manuscritos pertenciam aos essênios. Além disso, as escavações revelaram uma pequena cidade, que foi imediatamente identificada como sede da comunidade dos essênios. Nesse caso os essênios seriam um grupo de pessoas ligadas ao Templo de Jerusalém que, tendo rebelado-se às práticas de Jerusalém, foram viver no deserto, num clima de grande antagonismo contra os sacerdotes que ficaram em Jerusalém (Schiffman). Foram descobertos 4 escritos que falavam dessa comunidade: a Regra da Comunidade, os Hinos, o Pesher de Habacuc e a Regra da Guerra. Esses textos revelam um grupo que vivia baseado em elementos doutrinais como o dualismo, a predestinação e o messianismo bicéfalo. O problema é que existe muitas dúvidas sobre os reais habitantes de Qumran. Há vários espertos que ultimamente duvidam que a comunidade de Qumran fosse composta por essênios. Ou seja, hoje já não se identificam, de forma unânime, os habitantes de Qumran com os essênios. Há hipóteses que não relacionam os escritos encontrados nas grutas aos habitantes daquela pequena cidade. Alguns pensam, à luz de todos os textos, que o que se encontrou é a produção literária judaica do judaismo do segundo templo (400 antes de Cristo - 100 depois de Cristo) (Stegeman). Boccaccini pensa que os habitantes de Qumran têm origem no movimento que se baseia no personagem Enoch. Stegeman, invés, pensa que Qumran era simplesmente um centro para a produção de manuscritos. García Martínez, por fim, pensa que os habitantes de Qumran eram representantes de uma rotura entre os essênios, ou seja, essênios dissidentes.
As linhas acima mostram um pouquinho da polêmica que envolve Qumran. Essa polêmica não envolve apenas os habitantes de Qumran, mas também a interpretação dos elementos materiais ali encontrados e a interpretação de alguns textos. A polêmica quanto aos elementos materiais, arqueológicos, é devida ao fato que todo o resultado das escavações ainda não foram completamente publicadas, como os estudos de De Vaux, o primeiro a estudar Qumran. Sem esses estudos, na sua integridade, é difícil estabelecer a relação entre as ruínas, as grutas e os manuscritos. O resultado dessa polêmica foi várias interpretações sobre o que seria Qumran: fortaleza (Golb), centro editorial (Stegemann), fábrica de perfumes (Patrich), fábrica de cerâmica (Peleg), centro de produção de mel, tâmaras e bálsamo (Hirscheld). As duas últimas teses publicadas resumem bem a situação: Jodi Magnes (2003) defende a mesma idéia de De Vaux e diz que Qumran era um centro religioso; Yizhar Hirschfeld (2004) contesta os aspecto comunitário e o carácter religioso das ruínas, ligando-as, invés, a fortalezas asmonéias e com centros agrícolas dos ricos de Jerusalém. Apesar dessa hipóteses, o continuador do trabalho de De Vaux e responsável pela publicação das escavações de Qumran, Jean-Baptiste Humbert, diz que Qumran, no início, era um palácio de veraneio dos reis asmoneus, mas depois foi transformado num centro religioso para os essênios.
A última questão apareceu nos últimos anos, quando foram descobertos ossos num cemitério próximo a Qumran. Muitos dizem que se tratam de ossos de mulher. É importante, pois em Qumran, conforme a idéia geral, não viviam mulheres.
Todas essas teorias convivem e não existe ainda uma solução. Isso mostra como é complicado definir exatamente o que foi Qumran.
A questão central da sua pergunta é em relação ao contato de Jesus com o grupo dos essênios. Existe muito concenso entre os críticos sobre a não relação de Jesus com os essênios. Primeiro de tudo, como dissemos acima, o grupo não é nunca mencionado nos evangelhos. É claro que isso não é fundamental, mas conta. Porém o que faz com que a idéia seja rejeitada é a doutrina básica da comunidade. Através dos textos encontrados vemos que existia a comunhão fraterna na comunidade, mas ela era realizada somente no seu interior. Existia um grande ódio em relação aos que não pertenciam à comunidade. Este ódio não condiz com a doutrina central do cristianismo, baseada no amor incondicional ao próximo.
Em relação à questão dos nazarenos, o vocábulo aparece 19 vezes no Novo Testamento. Jesus é chamado de nazareno. Normalmente a expressão grega (nazarenos ou nazaraios) é traduzida como 'de Nazaré'. De fato esse título é dado a Jesus como um complemento (Jesus Nazareno). Era costume entre os judeus identificar a pessoa em base ao local de nascimento. Portanto não creio devemos fazer elucubrações em torno a esta expressão.
Em Atos 24,5 aparece a frase 'seita dos nazareus'. Nesse caso Paulo é acusado por Ananias (precisamente pelo advogado Tertulo) como um dos chefes dessa seita. Nesse caso é claro que os cristãos eram vistos como uma seita dentro do judaísmo, que se baseava em Cristo.
Jesus foi um essênio? Ãâ° verdade que os essênios foram os primeiros discípulos de Jesus? Ãâ° verdade que o próprio Cristo teria sido educado entre os essênios do Monte Carmelo, no norte de Israel, então conhecidos como nazarenos, que se diferenciavam dos eremitas da região de Qumram, no sul? Nos evangelhos existe qualquer crítica aos essênios?
- Pergunta de Rodrigo, São Carlos
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- 19/12/2007
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