Olá Neuza de Cariacica / ES!
Iniciando a conversa
A pergunta que fizestes, envolve questões muito atuais e dependendo da maneira que se vê a questão ela pode tornar-se polemica. A questão envolve a participação da mulher na comunidade, e na liderança da comunidade. Temos muitas dificuldades em aceitar este espaço que é devido à mulher. A razão é de todos nós conhecida, vivemos numa sociedade que embora se diga aberta aos valores femininos é muito machista, marcada pela estrutura da família patriarcal. Restringe muito a atividade da mulher. No mundo religioso a situação se torna ainda mais delicada.
A pergunta se caracteriza com um “Porque Paulo? Na carta aos 1Coríntios cap 11, 6 ensina”:
“Portanto se a mulher não se cobre com véu, nesse caso, que rape o cabelo. Mas, se lhe é vergonhoso o tosquiar-se ou rapar-se, cumpre-lhe usar véu”. (1Cor 11, 6)
Meu ponto vista foi construído na leitura de autores que entendem este versículo baseando-se nestes critérios.
- situação cultural e religiosa da cidade de Corinto.
- Tipo de sociedade patriarcal que era constituída a sociedade de Corínto.
- O luta da mulher na sociedade e como era vista na participação da religião.
Situação cultural, social, política e religiosa de Corinto.
A cidade de Coríntios apresenta-se como uma cidade comercial, portuária de intensa troca de mercadorias e passagem de povo. Era capital da Acaia, e atraia gente de todas as partes. Era centro cultural, com correntes filosóficas e escolas da época. Também era considerado importante centro religioso, com cultos dos mais variados, do Oriente, do Egito e Roma. Existia uma importante sinagoga judaica.
Também era considerada, por ser cidade portuária, uma cidade depravada. Existindo até na linguagem popular a palavra “corintizar”, isto é, viver os prazeres de Corínto. Paulo encontrou por estes motivos muitas dificuldades em acompanhar a Comunidade de Corínto, escreveu duas Cartas com orientações muito precisas, quanto ao culto, a moral e costumes e a vivência cristã.
A mulher de Corinto e sua participação na sociedade.
Na sociedade patriarcal da época, a mulher tinha muito pouco acesso à vida pública, e não assumia responsabilidade nos negócios fora do lar. Por este motivo também o acesso à educação era restrito.
Fugindo a esta regra vamos encontrar nas Comunidades Paulinas uma grande participação feminina. Lembro a conversão de Lídia e sua família, ela era comerciante de tecidos. Outras mulheres são mencionadas nas cartas: Trifena, Trifosa e Pérsida. Mais ainda Evódia e Sintique. Também aparecem Diaconisas e casais missionários como Áquila e Prisca.
A mulher administrava o funcionamento da Casa.
Por causa destas características a mulher na sociedade patriarcal tinha um espaço limitado a “CASA”, torna-se o lugar em que a mulher administra e controla. A mulher começa a ter uma participação expressiva na vida e organização das comunidades fundadas por Paulo. Isto acontece porque as comunidades começar a reunir-se nas casas e este era o espaço das mulheres. Assim as mulheres recebiam as pessoas, organizavam as celebrações litúrgicas e também passaram a ter funções especiais nas celebrações chegando ao anuncio da palavra.
Entretanto esta liberdade feminina não foi muito longe. Os homens começaram a reclamar do modo como elas se apresentavam. Falavam em público com a cabeça descoberta, como os homens faziam. Mas a questão fundamental disto não é cobrir a cabeça ou não. Mas era uma questão de interpretação moral vinda do contexto da cidade de Corínto.
Porque a exigência que as mulheres cobrissem a cabeça.
A compreensão deste versículo não passa pela interpretação da questão de que a mulher não coordenasse a comunidade, ou organizasse as celebrações litúrgicas ou mesmo profetizasse e anunciassem a palavra de Deus.
A compreensão do versículo 11,6 está na razão que as mulheres diante da comunidade se apresentavam com a cabeça descoberta e os cabelos soltos, transmitiam uma sexualidade declarada. Imitavam as prostitutas sagradas que existiam nos cultos da fertilidade nos santuários pagãos. Nestas cerimônias estava incluído o contato masculina com as prostitutas sagradas, como forma ritual.
Para evitar esta semelhança com as prostitutas sagradas dos cultos pagãos as mulheres que profetizavam nas cerimônias litúrgicas das comunidades Paulinas, Paulo solicita recato na roupa feminina e no cobrir-se a cabeça. Evitando mal entendidos e buscando a harmonia na comunidade.
Concluindo:Para termos uma interpretação verdadeira do versículo seis devemos nos preocupar com todo o capítulo 11 que nos fala da boa ordem nas Comunidades. É suficiente lembrar que em 11, 17ss, recomenda que a ceia do senhor seja sóbria e não motivo de comilança e bebedeiras. A comunidade deveria chegar à ceia já saciados para que esta reunião da Ceia do Senhor não fosse um motivo de condenação e sim de aproximação com o corpo do Senhor.
A resposta buscou subsídios nos artigos de:
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Odalberto Domingos Casonatto e Rosalir Viebrantz, A presença da mulher nas comunidades paulinas:
http://www.artigonal.com/evangelho-artigos/a-presenca-da-mulher-nas-comunidades-paulinas-1766375.html -
Odalberto Domingos Casonatto e Rosalir Viebrantz, Jesus e as Mulheres: A mulher nos Evangelhos Sinóticos em:
http://www.abiblia.org/ver.php?id=1623&id_autor=66&id_utente=&caso=artigos
Foulkes, Irene, Conflitos em Corinto: as mulheres numa igreja primitiva, em Por mãos de Mulher, RIBLA 15, Vozes, Petrópolis 1993.
A mulher na Biblia, Estudos Bíblicos 29, Vozes Petrópolis 1988.