Maria, o conceito de Semana Santa é relativamente recente e não tem um mandamento bíblico que determina que a observamos. Basicamente é uma comemoração, é um recordar aquilo que Jesus viveu naqueles dias por nós, pela nossa salvação. Obviamente essa atitude é almejável para todo cristão.
A tradição criou para esse período especial alguns costumes e gestos, como a procissão de ramos, que lembra a entrada de Jesus, sobre o burrinho, vindo de Betfagé e também o costume de não comer carne na Sexta-Feira. Além disso há tantas outras tradições que variam de cidade a cidade. Alguns lugares, por exemplo, fazem a procissão do Senhor Morto, outras a via-sacra pelas ruas da cidade, sempre na Sexta-Feira Santa. No sábado de noite é costume celebrar, diante do fogo, o Vigília de Páscoa. Sem esquecer do tradicional Lava-Pés da quinta-feira.
Essas são expressões de culto que tem raízes no passado. Algumas celebrações, como por exemplo a adoração da cruz, típica da Sexta-Feira santa, são descritas pela famosa peregrina romana Egeria, que visitou Jerusalém no VI Século, há mais de 1500 anos. Ela deixou anotações das coisas que se celebravam em Jerusalém durante a sua peregrinação.
O jejum
Um dos elementos que mais aparece nesse período é o jejum e a recomendação para que não se coma carne, em todas as sextas-feiras que antecedem a Páscoa, durante o tempo conhecido como quaresma. O mesmo preceito vale para a quarta-feira de cinzas, o dia em que se inaugura esse tempo de preparação para a Páscoa.
O jejum e a abstinência são sinais, também bíblicos, de conversão. O povo no tempo de Cristo jejuava sobretudo na festa da expiação. Mas há inúmeras outras passagens que lembram o jejum. Até mesmo Jesus, por ocasião das tentações no deserto, jejuou. Em atos dos Apóstolos, os responsáveis pela igreja, quando escolhiam os missionários, jejuavam (Atos 13,2-3) e Paulo, em 2 ocasiões, fala do próprio jejum (II Coríntios 6,5 e 11,27). É claro que jejum pelo jejum não tem sentido e não nos faz melhores. Basta pensar a quantos fazem jejum de maneira forçada, não porque é tempo de quaresma, mas porque não tem o que comer.
Não comer carne tem importância porque contém em si um significado, pois é, como dito acima, sinal de conversão. Não é, em si, a conversão.
Quem se abstem da carne está dando um sinal que
- quer se afastar do pecado
- é solidário com quem tem fome
- sublinha a importância da Palavra de Deus como alimento para a alma
- exprime a necessidade de colocar um freio no consumismo
Como bem lembram os profetas, o que conta, no final das contas, é a conversão do coração. Todos os gestos exteriores de nada valem se não conduzem a uma renovação do coração. Todavia eles podem ser significativos e a sua observância não deve ser motivo de gozação. Talvez não baste substituir carne por peixe, que nem sempre é mais barato, mas fazer algum gesto concreto que demonstre a nossa adesão ao projeto de Cristo, que mostre a nossa solidariedade com quem deu a vida por nós.