Prezada Luciene,
A Bíblia é uma só, mas do Antigo Testamento existe uma versão hebraica e outra grega. A história, resumida, é a seguinte: No período entre o séc. III e o séc. I a.C. ocorre a Diáspora judaica helenística, numa época em que os judeus já estavam, em partes, dispersos pelo mundo. Havia uma grande comunidade judaica em Alexandria no Egito, onde se falava muito a língua grega e já não se conhecia mais o hebraico, exceto os sábios e rabinos. Decidiu-se então fazer uma tradução da Bíblia do hebraico para o grego. Esta tradução recebeu o nome de Septuaginta. Alguns escritos recentes foram-lhe acrescentados sem que os judeus de Jerusalém os reconhecessem como inspirados. Somente no final do séc. I d.C. foi fixado o cânon (= medida) hebraico, portanto numa época em que a diferenciação entre judaísmo e cristianismo já era bem acentuada. E os escritos acrescentados não foram aceitos no cânon hebraico.
Esta Bíblia em grego, chamada Septuaginta, foi adotada pelos primeiros cristãos. Não porque era melhor ou pior, simplesmente porque a maioria das comunidades fora de Israel não conhecia o hebraico. Assim esta Bíblia foi sempre usada na Igreja. Veja um texto do Concílio de Hipona (8 de outrubro de 393):
“Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'. E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos[1], dois livros dos Paralipômenos[2], Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão[3], doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias[4], Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo, uma do mesmo aos Hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João. Sobre a confirmação deste cânon se consultará a Igreja do outro lado do mar. É também permitida a leitura das Paixões dos mártires na celebração de seus respectivos aniversários".
Veja que neste período, (ano 393) os livros Judite, Macabeus, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc, aparecem como aconselhados pela Igreja.
Então, de onde vem a diferença?
Durante a Reforma, (entre 1500 e 1600) Lutero resolveu traduzir a Bíblia para o Alemão, pois até então a única língua utilizada na Igreja era o latim. Lutero achou melhor traduzir diretamente do hebraico, onde não se encontram os sete livros que se encontram na Septuaginta, a Bíblia grega.
A partir daí, os católicos continuaram a utilizar a Bíblia que vinha do grego e os protestantes começaram a utilizar a Bíblia que Lutero havia traduzido do hebraico, ou seja, o cânon judaico.
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