A pergunta literal do nosso leitor, Marcelo, diz assim:

O que fazer realmente para obter minha salvação, obedecer o VELHO testamento ou só usa-lo como exortação? Ou obedecer o NOVO testamento é sufuciente? Pois quando eu faço um testamento e depois faço um novo, quero dizer que o VELHO  NÃO vale mais ,certo? Me ajude quero realmente conquistar a salvaçao!

 

É uma questão muito importante, sobretudo se vivemos em ambiente com pessoas que têm convicções diferentes, como Católicos, Testemunhas de Jeová e outras pessoas que pertencem a diferentes igrejas. Concretamente, há quem diz que precisa seguir o preceito de resguardar o Sábado, como os Judeus fazem até hoje, por que está escrito assim no Antigo Testamento, e outros, invés, que guardam o Domingo. Há, por exemplo, quem não aceita transfusão de Sangue, pois, como ensina a Lei do Antigo Testamento, o sangue pertence a Deus e o homem não pode dispor dele. E assim há outros conflitos entre as leis do Antigo Testamento e a nossa vida quotidiana de cristãos.

Além dessa consideração, costumamos dizer que toda a Bíblia, Antigo e Novo Testamento, é Palavra de Deus. Por isso, como é que não obedecemos tudo o que é dito no Antigo Testamento? E como fica a frase de Jesus, dita em Mateus 5,17: "Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento"?

 

É muito importante, nesse caso, uma leitura atenta da Carta aos Hebreus. Nela há frases muito fortes : "Agora, porém, Cristo possui ministério superior. Pois é ele o mediador de aliança bem melhor, cuja constituição se baseia em melhores promessas. De fato, se a primeira aliança fora sem defeito, não se trataria de substituí-la pela segunda" (Hebreus 8,6-7). Para uma reflexão atenta e profunda, convém ler todo o livro.

Apesar do tom forte e polêmico desse texto mencionado, ele está em sintonia com quanto dito na frase de Mateus citada acima. A Lei (Torah), a Primeira Aliança (o Antigo Testamento), é uma etapa da caminhada, que conduz a uma meta. Cristo é essa meta; ele completa o caminho, alcança o objetivo. É nesse sentido que Ele diz que "dá pleno cumprimento", isto é completa a lei.

Usando uma metáfora, quem faz uma caminhada não pode considerar apenas a chegada; para chegar lá, foi necessário caminhar, passar pelo caminho, que também foi fundamental. Não posso tomar isoladamente a 'chegada' e ignorar toda a caminhada, que culminou na etapa final. É o mesmo com a Bíblia: é uma caminhada, que conduz à meta, que é Cristo. Durante esse caminhar, há momentos que a meta está mais próxima e outros em que o objetivo está longe.

Quando eu leio, por exemplo, que Davi combate guerras santas, em nome do Senhor, poderíamos dizer que o povo está caminhando em direção a Cristo, mas essa atitude, a guerra santa, não condiz, 100%, com o ensinamento de Cristo, que nos ensina a amar os inimigos. Mas não posso ignorar que aquele momento histórico, quando o povo colocava Deus no centro de tudo aquilo que fazia, tenha sido importante para a caminhada em rumo à revelação plena em Cristo. É preciso valorizar o processo, sem perder de vista a meta.

 

Se é assim, bastaria ler o Novo Testamento, que é a revelação plena da vontade de Deus, a meta? Não! O Antigo Testamento tem ainda hoje valor propedêutico, pois pode ser, também para nós que o lemos, um instrumento útil para nos conduzir ao Verbo Encarnado, a Deus que se faz carne. Como disse, não podemos entender perfeitamente uma meta ignorando o processo que conduz até ela. E, ao mesmo tempo, tendo sido descoberta a meta, não posso absolutizar o valor do processo que a revelou.