Olá Sinthia Ingrid,
Na Bíblia, inicialmente são dois animais (um casal) de cada espécie que entram na arca com Noé. Mas, também, lembro que na Bíblia está a memória de diversos grupos ou tradições, que vivenciaram a ação de Deus em suas vidas, e assim acontece com a história do dilúvio. Algumas vezes a memória ou lembrança das diversas tradições, não coincidiam exatamente nos detalhes em seus relatos. E, também, quando esses relatos, muito tempo depois foram escritos, respeitaram-se as diferenças que existiam. Assim em Gn 6,19 aparecem dois animais (um casal) e em Gn 7, 2: tanto sete casais, como um casal de animais.
Vejamos em Gn 6,19 - 20 é determinado por Deus que Noé leve para a arca, um casal de cada espécie de animais. Mas, na continuação, em Gn 7, provavelmente, oriundo de outro grupo, que também faz essa memória, o pedido é que Noé leve para a arca, dos animais considerados puros, sete casais e dos animais considerados impuros, apenas um casal, cf. Gn 7,2 -3. E em Gn 7,9 volta a questão de apenas um casal, tanto dos animais puros como os impuros, pois encontramos: "entrou na arca sempre com Noé, um casal de animais, conforme Deus lhe havia ordenado". (cf. tradução: Bíblia de Jerusalém, CNBB e Pastoral). Na tradução do Almeida em Gn 7,9 aparece: “entraram de dois em dois para Noé, macho e fêmea, como Deus ordenara”.
Nas narrativas anteriores de Noé com a arca, não encontramos na bíblia uma diferenciação de animais considerados puros e impuros, isso só começa a aparecer em Lv 11 e Dt 14,3-21, conforme o registro da tradição sacerdotal. Esse grupo que faz a redação final de Gn 7, com base em outra memória, que não a de Gn 6, incorpora na narração a questão dos animais puros e impuros. Precisamos notar que em Gn 1, 21.25, Deus após criar os animais, viu que sua criação era boa, portanto, há uma questão a levar em consideração, a respeito dos animais considerados puros e impuros, fruto da tradição sacerdotal.
Sinthia, muitas vezes, queremos encontrar na bíblia uma exatidão nas narrativas sobre um mesmo fato, mas isso, as vezes, pode não acontecer, porque nela está a memória de muitos e muitos grupos, em diferentes épocas e situações, e, por isso, podemos encontrar algumas divergências, como é o caso do relato do cap. 7 de Gênesis. A intenção nos dois relatos, tanto em Gn 6 como Gn 7, está ressaltada, Deus não quer acabar com a sua criação. Cabe a todos nós seres humanos, cuidar e preservar de tudo o que Deus criou.