A história da morte e ressurreição de Lázaro é contada pelo Evangelho de João. Segundo a narração, tudo aconteceu numa cidadezinha próxima a Jerusalem, chamada Betânia. Já no VI século se tem notícia de um túmulo cavado na rocha que seria aquele no qual Lázaro tinha sido colocado após a sua morte. Hoje ele se encontra embaixo de uma mesquita e pode ser visitado pelos pelegrinos. Esse personagem é muito importante nos Evangelhos. O nome em si já revela um aspecto interessante. De fato, "Lázaro"é uma derivação grega do nome hebraico "Elzeário", que significa "Deus ajudou".

Na parábola do Rico e do Pobre (Lucas 16,19-31) também aparece um personagem, o pobre, que se chama Lázaro, mas não tem relação histórica com o personagem de João.

O personagem histórico, invés, aparece somente em João. No capítulo 11 o evangelista narra o drama de 3 irmãos: Marta, Maria e Lázaro. Este último ficou doente e as irmãs avisam Jesus e pedem que venha, dizendo: "Aquele que amas está doente". Jesus, recebendo o aviso diz: "Essa doença não é mortal, mas para a glória de Deus". Depois de alguns dias Jesus vai a Betânia e encontra Lázaro sepultado há 4 dias. Marta então diz a Jesus: "Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido". Em seguida Jesus diz: "Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em miim jamais morrerá". Então vai ao sepulcro onde está Lázaro e ordena: "Lázaro, vem para fora! ". João conta que em seguida "o morto saiu, com os pés e mãos enfaixados e com o rosto coberto com um sudário".
O mesmo Lázaro aparece no capítulo seguinte do evangelho de João, quando, seis dia antes da Páscoa, Jesus vai a Betânia e Maria unge os pés de Jesus com bálsamo. Nessa ocasião, João conta: "Grande multidão de judeus, tenod sabido que ele estava ali, veio, não só por causa de jeuss, mas também para ver Lázaro, que ele ressucatara dos mortos. Os chefes dos sacerdotes decidram, então, matar também a Lázaro, pois por causa dele, muitos judeus se afastavam e criam em Jesus"(João 12,9-11).

Depois disso o Evangelho não diz nada mais sobre Lázaro. A tradição, invés, conta que ele chegou até a França, tornando-se o primeiro bispo de Marsilha.

A questão que você põe, sobre a historicidade da ressurreição de Lázaro, é muito delicada. A dificuldade nasce a partir do momento que conhecemos Jesus não através de seus escritos, mas por meio do movimento que ele criou. Os evangelistas, representantes desse movimento, têm um único objetivo: testemunhar o acontecimento da salvação trazida por Jesus. Por causa desse objetivo primário, os evangelhos que nós lemos hoje não são crônicas e nem biografia de Cristo, mas documentos de fé. Jesus descrito em João é muito transcendente, dando quase a impressão que os aspectos históricos desaparecem sob a luz do evento fundamental da Páscoa. Isso é muito claro no texto da ressurreição de Lázaro. Tudo ali fala da ressurreição. Esse é um claro sinal que o evangelista, mesmo se escreveu sobre um fato realmente acontecido, deu um colorido todo especial ao acontecimento, fruto de um longo processo de reflesão teológica. É por isso que muitos se perguntam se é ainda possível determinar as ipsissima verba Jesu, aquilo que Jesus realmente disse.

A resposta dos teólogos durante os séculos têm sido diversas. Bultmann representa a radicalização da não importância da historicidade de Jesus, dizendo que os evangelhos estão cheios de mitos. A sua opinião, contudo, foi contestada já por seus próprios discípulos e, hoje em dia, os teólogos sublinham que o Jesus da fé está em continuidade com o Jesus histórico: Jesus adorado como Deus é ao mesmo tempo o filho do carpinteiro.

A ressurreição de Lázaro, mesmo se não presente nos evangelhos sinóticos, certamente foi um milagre realizado por Jesus. Contudo, as circunstâncias históricas desse milagre provavelmente não são exatamente aquelas contadas por João. O evangelista deve ter tomado a recordação de um fato histórico e inserido no texto narrativo diversos elementos, também esses com raízes na história, para enfatizar conceitos teológicos que visam transmitir a fé na ressurreição.