Como já respondeu há poucos dias o Odalberto, trata-se de um gênero literário chamado "Salmo Alfabético", onde o autor do Salmo compôs a sua oração começando cada sessão (cada uma com 8 versículos) com uma letra do alfabeto hebraico. No início de cada estrofe, em hebraico, a palavra que inicia a sessão começa com essa mesma letra. E não só a primeira palavra dessa sessão, mas todas as frases da sessão iniciam com a mesma letra. Ou seja, todos os oito primeiros versículos, que compõem a primeira estrofe, começam com alef. Isso, infelizmente, não acontece nas nossas traduções. Em outras palavras, todos os versículos de Salmos 119,1-8, em hebraico, começa com Alef; 119,9-16 com bet (Bameh); 119,17-24 com guimel (gmil) e assim por diante. A mesma coisa acontece com o Salmo 145, mas ali temos apenas 21 versículos e cada um começa com uma letra do alfabeto.
Não é necessário fazer muitas elucubrações sobre essa técnica. Na verdade trata-se de um recurso poético muito conhecido na antiguidade e também entre os primeiros escritores cristãos, como Agostinho.
O recurso a esta técnica pode ter diferentes razões, todas elas aplicadas ao hebraico e não mais úteis nas nossas traduções. Uma delas poderia ser uma ajuda para que o texto fosse facilmente decorado, como acontece com alguns jogos típicos do nosso tempo de infância. Outra, mais excêntrica, pode ser a intenção do autor em mostrar o quanto é capaz em lidar, poeticamente, com todas as letras do alfabeto.
É claro que tudo isso não tem um fim em si mesmo. O objetivo profundo do autor e exaltar a Lei, que é o tema central do Salmo.