Olá Anselmo, Belém / PA!
A pergunta desperta curiosidade na interpretação. Procurei olhar o material que dispunha, para ver os caminhos da interpretação deste versículo Bíblico. Esta passagem se encontra em 2 Reis 9,35:
“Quando chegaram para sepultá-la só encontraram o Crânio, os pés e as mãos.” (2 Reis 9,35) Bíblia de Jerusalém.
A interpretação está baseada em alguns elementos: como a presença de uma mulher estrangeira na casa real de Israel, Jezabel, tornando-se esposa de Acab. Aparece o questionamento da idolatria que Jezabel traz dos rituais pagãos que conhecia. Cultos a Baal e a deuses da fertilidade. A instalação e 450 sacerdotes de Baal em Israel. Etc.. O conflito com profeta Elias. Penso que estes dados poderão ajudar nas imagens da compreensão do versículo os cães não comeram suas mãos (nem o crânio e pés), dilacerando o restante do cadáver.
Primeira interpretação:
- Uma primeira interpretação, para mim a mais racional é aquela que muitos comentaristas do Segundo livro dos Reis, explicam: “o fato de não acharem em Jezabel senão somente a caveira, os pés e a palma das mãos está na explicação que os cães selvagens que andavam pelos desertos, em mantilhas atacando suas vítimas despedaçavam os cadáveres e mostravam aversão a estas três partes os pés as mãos e o crânio. Este é o motivo de terem encontrado do corpo de Jezabel estas sobras. Entretanto a interpretação do versículo sobre o cadáver de Jezabel não pode ser fixado somente neste argumento.
Segunda interpretação:
- Outra interpretação na linha espiritualista utilizando símbolos relacionados com a figura de Jezabel seria: Os seguidores de ídolos são tão amaldiçoados por Deus, que mesmos cães selvagens do deserto se recusaram a comer os pés e as palmas das mãos de Jezabel.
O sentido simbólico dos pés é que eles são usados para conduzir os idólatras até os locais de seus rituais idólatras. Jezabel era uma rainha estrangeira que mantinha as suas tradições religiosas. Tinha 450 profetas a seu dispor e manteve um conflito com o profeta Elias, a este planejava a morte. No final Elias extermina os profetas de Baal.
O sentido simbólico das mãos é que elas são usadas para servir os ídolos. A Bíblia nos diz que “o sacrificado ao ídolo é a demônios que sacrificam, e não a Deus”. (1 Coríntios 10,19-20)
O sentido simbólico do crânio é que no célebro a pessoa humana articula os pensamentos e raciocínia os caminhos de sua vida. Poderá rejeitar Javé o verdadeiro Deus e seguir outros deuses conforme seus interesses.
Terceira interpretação: Leitura feminista:
A leitura feminista vai ao encontro do texto sem muitos rodeios e salienta tudo aquilo que hoje nos ouvimos com respeito à participação da mulher na sociedade. A forma sanguinária de eliminar uma rainha estrangeira com poder decisório sobre Israel para reafirmar o estilo patriarcal da família judaica é evidenciado. Da mesma forma que de uma vez por todos Elias o profeta vence a profetisa estrangeira Jezabel. O extermínio foi total, foi jogada, do alto do Palácio não com vestes reais, mas vestida e pintada como uma prostituta, representando o culto a fertilidade dedicado aos deuses estrangeiros trazidos a Israel. Foi jogada das alturas seu sangue salpicou nas paredes, e os cavalos pisotearam seu corpo. Nada mais resta somente ser alimento para cães selvagens. As imagens das sobras encontradas no momento em que Jeú decide mandar sepultar indicam que não restou nada, da mulher estrangeira, da profetiza de Baal, do culto a sexualidade. O crânio, mãos e pés, que os cães não comeram indicam que tudo esta terminado e o culto a Javé deverá continuar.
A leitura feminista do texto interpreta a morte de Jezabel, como uma ideologia de extermínio da presença da mulher estrangeira em Israel, e do extermínio dos cultos a deuses estrangeiros. A narrativa javista do texto quer justificar, na morte de Jezabel: a violência, e morte destas mulheres, utilizando seguidamente de metáforas como é o caso dos cães que não comem as mãos de Jezabel.
Fonte: Maricel Mena López, Os cães comerão a carne de Jezabel – sexo e idolatria, metáforas que legitimam a morte de estrangeiras, Revista Ribla 41, pág.63,69, Vozes Petrópolis.