Olá Roberto!

A preocupação em querer entender as reais intenções das ações de Jesus perante a lei são verdadeiras. De fato, a interpretação destas passagens bíblicas merece uma atenção especial. As atitudes de Jesus com referencia ao sistema da Lei Judaica, não coloca Jesus em oposição a Lei e preceitos estabelecidos por seu Pai. Por isso que ele mesmo diz não vim mudar a lei, mas cumpri-la. A pratica religiosa Judaica, passou a ser manipulada por um grupo de autoridades vindas do farisaísmo, que começaram a dar interpretações absurdas daquilo que Deus queria que o homem fizesse. Por isso que Jesus debate com os Fariseus a questão do apedrejamento da mulher adultera, a Lei do sábado, a lei do puro e impuro etc. Para podermos entender esta mudança que Jesus propunha da prática da Lei devemos ter em mente a situação da vivência religiosa, social etc, da Palestina do tempo de Jesus.

Jesus viveu na Palestina, dentro do quadro do Império Romano e do Judaísmo. Encontrou estruturas sociais geradoras de morte, tais como o sistema da Lei no Judaísmo e também as Leis econômicas do Império Romano. Para podermos compreender em profundidade as atitudes de Jesus e seus gestos, temos que entender também a situação do homem de seu tempo. Só assim teremos a compreensão do posicionamento de Jesus perante a Lei, e o porquê de sua interpretação irônica (muitas vezes) da mesma.

Jesus, em sua época, conseguiu distinguir, de modo claro, as estruturas que sustentavam Leis de morte, daquelas Leis que geravam vida. Perpassando as páginas do Evangelho, encontramos Jesus em constante conflito com os Fariseus, pois eram os guardiões da mais terrível estrutura de morte de sua época.

 

 Lei do Puro e Impuro: marginaliza o pobre

Na lei do apedrejamento da mulher adultera vem à tona a questão da reinterpretação que Jesus faz das leis farisaicas do puro e impuro. A mulher apanhada em adultério está infligindo uma serie de leis da casuística farisaica. Ela era uma mulher, por causa deste fato era mal vista e considerada em eterno estado de impureza. Jesus vê a mulher com outros olhos, se aproxima e dá chance de recuperação. Oferece a ela o perdão e a dignidade que o sistema do puro e impuro lhe haviam tirado. Na mesma direção outras atitudes de Jesus escandalizavam os fariseus. Jesus tocava nos leprosos (Mc 1,41; Mt 8,2; Lc 5,12), tocou no cadáver do filho da viúva de Naim e o ressuscitou. Os seus discípulos escandalizavam os Fariseus, porque comiam e bebiam sem lavar as mãos. Tudo isto que Jesus e seus discípulos faziam, tornava impuras as pessoas. Os Sacerdotes e Fariseus, vendo estas atitudes de Jesus e dos discípulos, os repreendiam severamente. Cristo viu que estas Leis do puro e do impuro eram uma carga pesada demais para o povo. Para tudo, existia uma Lei: o que devia comer ou não, vestir, a distância que podia caminhar no Sábado, ou o que poderia fazer, etc. Existiam nada menos que 600 mandamentos. Em conseqüência de todas estas leis, tornou-se para o pobre um peso insuportável observá-las e, com freqüência, infringia algumas, tornando-se impuros.

 

Questão fundamental: o próximo e o não-próximo?

 Sério problema causador de morte a Lei que distinguia as pessoas e as classificavam em próximo e não próximo. 0s Judeus, apoiados na Lei, desprezavam os Samaritanos por serem impuros, não passavam em seu território para não se tornarem impuros, desprezavam os Galileus pois seus habitantes casavam-se com mulheres estrangeiras. Natanael diz a Felipe: “De Nazaré, pode sair algo de bom?” (Jo 1,46). Da mesma forma, no Templo, os estrangeiros podiam apenas entrar no átrio dos Gentios e antes da entrada do Templo propriamente dito, dos sacrifícios, existia uma placa condenando à morte os não-judeus que por ali passassem.

Cristo trouxe uma nova interpretação a esta Lei: não existia mais o “não-próximo” e ilustrou a nova doutrina com a parábola do Bom Samaritano, dando uma resposta ao legista que lhe pergunta: “E quem é o meu próximo” (Lc 10,29): 0 próximo é para todo o homem, aquele que nos aproximamos, quer necessite de ajuda quer não.

 

A Lei da observância do Sábado: Como entender?

A relativização da Lei farisaica chega a um ponto crucial. Jesus realiza trabalhos que não eram permitidos no Sábado. Os Judeus o condenam violentamente. Ele realiza curas no Sábado, trabalho este condenado segundo a casuística farisaica (Mt 12,10; Mc 3,2; Lc 6,7; 14,5; Jo 5,8). Sob os olhos de Jesus, os discípulos colhem espigas de trigo (Mt 12,1-8; Lc 6,1-5; Mc 2,23-28). Jesus, vendo toda esta casuística farisaica, verdadeiro instrumento de escravidão e de morte, toma atitudes inesperadas e provocatórias diante dos Fariseus.

No episódio da observância do Sábado, Cristo redimensiona a Lei. Coloca, como o mais importante, o Homem em vez da Lei: “0 Sábado foi feito para o Homem; e não o Homem escravo do Sábado” (Mc 2,27). Esta atitude de Jesus faz com que a longa lista do que era permitido ou proibido fazer no Sábado caia por terra. De agora em diante, é a Lei do Amor que governa as ações do homem.

Uma explicação para toda esta controvérsia de Jesus com os sistemas estabelecidos na época é para apresentar seu evangelho como uma proposta nova. O texto comentado propõe para a humanidade uma proposta nova, mostrando novos valores a ser vividos pela humanidade. Jesus na sua proposta mostra a humanidade um novo modo de relacionamento com a mulher, mostra que aquilo que sai da mente humana é que nos corrompe e não os alimentos que nos alimentam. Jesus nos quer mostrar em seu evangelho que Ele mesmo é a Lei, o Templo e mostra como seu ensinamento novo, o mandamento do Amor, supera a Lei.