A menção aos "anjos acorrentados"aparece em Apocalipse 9: E o sexto anjo tocou... Ouvi então uma voz que provinha dos quatro chifres do altar de ouro, colocado diante de Deus, e dizia ao sexto Anjo, que estava com a trombeta: "Liberta os quatro Anjos que estão presos sobre o grande rio Eufrates. Os quatro Anjos, que estavam prontos para a hora, o dia, o mês e o ano, foram então libertos para matar a terça parte dos homens."(9,13-15)

Vamos, primeiro de tudo, esclarecer algo importante: O Apocalipse não é uma história de catástrofes e de anúncios do fim do mundo, no estilo de Nostradamus, mas um livro que trata de Deus e da sua justiça em guiar a história da humanidade. É isso que vem comunicado nos textos que falam das 7 trombetas, cuja citação acima pertence. Os 4 anjos mencionados estão inseridos na sexta trombeta. As trombetas (e também os 7 selos anteriores) querem concretizar o título do livro do Apocalipse, como aparece em 1,1: Revelação de jesus Cristo: Deus lha concedeu para que mostrasse aos seus servos as coisas que devem acontecer muito em breve.

Falando concretamente do episódio dos anjos prisioneiros que são libertados para destruir um terço da humanidade, precisamos colocar em contraste com o capítulo 7,1-3, onde se diz: Depois disso, vi quatro Anjos, postados nos quatro cantos da terra, segurando os quatro ventos da terra,para que o vento não soprasse sobre a terra, sobre o mar ou sobre alguma árvore. Vi também outro Anjo que subia do Oriente com o selo do Deus vivo. Ele gritou em voz alta aos quatro Anjos que haviam sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: "Não danifiqueis a terra, o mar e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso Deus".. Agora, invés, se dá ordem para que sejam soltos, para "matar um terço da humanidade". A ordem vem do altar e isso faz ver que é uma resposta de Deus às orações dos "santos", os cristãos fiéis. Os 4 anjos estão sobre o Eufrates, que não é somente um rio, mas uma fronteira e representa uma ameaça de invasão para o Império Romano. De fato os romanos daquela época temiam as populações orientais, que estavam para lá do Eufrates, onde residiam os partos, que causaram problemas à Roma. O autor do Apocalipse vê nesses inimigos do Império Romano um sinal do fim da perseguição contra os cristãos. A catástrofe aqui evocada, a morte de um terço da humanidade, é o simbolismo que o apocalipse usa para evocar a mudança na história mediante a intervenção de Deus. Esse simbolismo, um pouco estranho para nós hoje, era bem conhecido em certo ambiente daquela época. Certamente a linguagem usada pelo Apocalipse era bem entendica pelos leitores do tempo em que foi escrito. Invés, nós, que temos uma cultura muito diferente, devemos estudar o simbolismo ali presente para poder ler de modo adequado a mensagem que o autor quis transmitir.

A presença dos anjos é muito comum na Bíblia. No Novo Testamento aparece 175 vezes e entre essas, 67 vezes no Apocalipse. Eles são executores da vontade e das ordens do Senhor, mensageiros e servos fiéis de Jesus.

Em geral podemos dizer que os anjos são um forma de mediação entre o mundo divino e o mundo humano. Um conceito importante na teologia, sobretudo no Antigo Testamento, é a transcendência de Deus. Para o homem é impossível ver a Deus. Por isso, quando Deus precisa comunicar com os seres humanos, aparecem os anjos.