A comida é, primeiro de tudo, uma necessidade; quem não come morre. E para comer, a humanidade aprendeu, primeiro, a caçar e, depois, a produzir, da terra, o alimento. Todavia não se produz nada sem lembrar  que a terra é de Deus (veja Êxodo 19,5; Levíticos 25,23), que Deus é o criador que doa e providencia o alimento para todo ser vivente (veja Salmos111,5; 147,9): "do Senhor é a terra e tudo aquilo que ela contém" (Salmos 24,1). É essa a razão que leva a Lei a determinar que "comerás é ficarás saciado, e bendirás a Iahweh teu Deus" (Deuteronômio 8,10).

Todavia comer não é apenas uma necessidade biológica, mas é uma ação simbólica, com muito significado. É normal comer junto com alguém, ou seja, se partilha o alimento. Por isso a refeição é uma oportunidade única de manifestação de afeto, de conclusão de uma aliança, de um sinal de reconciliação.

Além disso, como já acenamos acima, à mesa se aprende que o que está ali não é meu, mas também dos outros, ou seja, é algo que tende a ser partilhado, é "nosso".

Para sublinhar esses sinais simbólicos e sobretudo a certeza que tudo o que nos é dado vem de Deus existe a bênção sobre os alimentos, uma oração de louvor que o fiel faz a Deus sobretudo no início da refeição. Essa oração sublinha a bondade de Deus, que dá ao ser humano coisas boas. É nesse sentido que Paulo, em 1Timóteo 4,4-5 lembra que tudo o que foi criado é bom e nenhum alimento é proibido, se é consumado rendendo graças: a Palavra de Deus e a oração os santifica. E aos cristãos de Corinto Paulo diz: "quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus" (1Coríntios 10,31).

É muito normal ver Jesus nas refeições: nas bodas de Canãa, com os pecadores, na casa de Pedro, com Marta, maria e Lazaro, com Zacheo e o leproso Simeão. Foi até chamado de glutão e beberrão (Lucas 7,34).

E quando Jesus quis deixar-nos um sinal capaz de expressar toda a sua vida de doação radical por nós, usou exatamente a refeição: comeu e bebeu pronunciando a bênção e dando graças a Deus, bênção e eucaristia (Marcos 14,22-25 e paralelos; 1Coríntios 11,23-25).

 

Por tudo isso, convém a nós, cristãos, tomar as refeições como uma profecia do banquete no Reino de Deus, participar delas com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus, partilhando o nosso alimento com os necessidados, com os hóspedes.