Creio que tais funções não são absolutamente contrárias ao ensinamento bíblico. Contudo tal afirmação não precinde de uma explicação e de uma visão mais complexas.

As Sagradas Escrituras são palavras divinas escritas por pessoas humanas. O contexto em que nasceram é explicitamente marcado por uma sociedade patriarcal e, poderíamos sublinhar, machista. Pensar que os autores sagrados, mesmo sendo inspirados, não foram influenciados por tais concepções é errado. É verdade também o outro lado: sendo inspirados, dão indicações que transcendem o próprio ambiente em que vivem e a sua mensagem transcende o tempo histórico do nascimento dos textos.
Creio que toda pessoa que tente encontrar na Bíblia respostas a situações vitais modernas tenha que ter em mente este ponto de vista, esta hermeneutica.

Entrando concretamente no tema que você aborda, portanto, não vamos encontrar um "sim"ou um "não"explícitos, um texto que diga: pode existir "pastora", "missionária" e "diaconiza"! ou o contrário. É preciso ler com atenção e procurar identificar experiências feitas pela comunidade cristã das origens que possam nos ajudar a encontrar uma conclusão e formar uma idéia. Obviamente nada disso deve nos subtrair da tarefa de ler também a história. De fato a questão que você põe é intimamente influenciada pela prática da igreja católica, onde domina a figura masculina como pessoa encarregada de dirigir a comunidade. E, se quiséssemos alargar a discussão, e quem sabe isso nos pode ajudar a esclarecer nossas idéias, essas figuras masculinas, os sacerdotes católicos, hoje possuem a obrigação do celibato, não têm esposas. Sabemos bem que essa não era uma prática única na comunidade cristã primitiva, como, de modo claro, mostra Ombretta Pisano numa resposta nesse site sobre o celibato dos padres. Por isso a norma que obriga os padres a não terem esposas, claramente não é bíblica, e mesmo assim é uma norma em voga hoje em dia. Da mesma forma, do meu ponto de vista, mesmo se na Bíblia não existe uma afirmação que diga literalmente que as mulheres possam ser protagonistas na comunidade, nada impede que isso não venha a acontecer. Tanto é verdade que mesmo no mundo católico, entre os representantes do magistério, embora não sejam a maioria, existem opiniões favoráveis ao sacerdócio das mulheres e também à abolição da obrigação do celibado para o clero.

Vamos, todavia, analisar um pouquinho mais de perto a Palavra de Deus e ver concretamente que mensagem podemos tirar dela, sobretudo da prática descrita no Novo Testamento.

A mulher na Bíblia tem um papel muito importante. Tal constatação não é demagogia. É verdade que as personagens femininas são minoria e poucas em comparação com o número daquelas masculinas. Todavia, considerando a sociedade patriarcal de então, a presença delas não pode deixar de ser notada. Diria que se não aparecessem, se não fossem citadas, seria normal. O fato de, às vezes, terem um papel tão relevante é, considerando sempre a situação daquele período, de uma importância significante. Já no Antigo Testamento encontramos verdadeiros símbolos de fé. Não é o caso de relembrar a história delas, mas basta recordar alguns nomes: Sara, Miriã, Raquel, Débora, Hulda, Rute, Ana, Mical, Abigail, Ester...

No Novo Testamento o papel delas é ressaltado ulteriormente. Lembremos, nesse caso de Maria mãe de Jesus, Maria de Betânia, Marta, Madalena, a Samaritana, Priscila, Lídia...

Sobre o papel concreto da mulher na comunidade, há na literatura paulina dois textos que podem nos ajudar. O primeiro é Romanos 16,1-2: Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da Igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor de modo digno, como convém a santos, e a assistais em tudo o que ela de vós precisar, porque ela ajudou a muitos, a mim inclusive. Além desse texto muito eloquente, é evidente que Paulo, quando escreve aos coríntios (1Coríntios 11,5), descreve como natural o papel da mulher na assembléia, onde ora e profetiza. Na mesma carta descobrimos que Paulo retém que os profetas são, a nível de importância, a segunda categoria dentro da igreja: aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, doutores... (1Coríntios 12,28). Deste confronto parece evidente que as mulheres podem ter um papel superior aos "doutores". Segundo Atos dos Apóstolos 13,1 os doutores são aqueles encarregados do ensinamento regular e ordinário nas comunidades.