O episódio de Ló, em Sodoma, se encontra em Gênesis 19. Depois da intercessão de Abraão em prol dos habitantes da cidade (capítulo 18), Deus envia dois anjos que são acolhidos por Ló. Os homens da cidade, que tinham costumes homosexuais, queriam abusar deles. Ló os impediu. Na manhã seguinte Deus ordena à família de Ló, para se salvarem, que saísse da cidade. De fato toda a cidade (junto com Gomorra e toda a planície) é destruída com uma chuva de enxofre e fogo vindos de Yahweh. O versículo 26 diz: Ora, a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal.

Se você pergunta a um exegeta o significado deste episódio a resposta é simples: trata-se da explicação dada quanto à origem de uma pedra com forma particular encontrada na região, de onde ela teria aparecido. Apesar dessa interpretação "materialista", muitos teólogos tiram deste fato um ensinamento religioso, ou seja, depois que você abraçou a causa de Deus não pode olhar para trás, voltar ao passado, lamentar daquilo que havia antes. É nesse sentido que também é lida a história do povo de Israel, que escapa do Egito e que, constantemente, reclama com Moisés em relação às condições de vida do Egito, que, segundo eles, eram melhores do que aquelas do deserto. Isso ficou famoso com o provérbio "chorar as cebolas do Egito". Também Jesus, em Lucas 9,62 diz: Ninguém, que coloca a mão do arado e olha para trás, é digno do reino de Deus.

O outro episódio, ao qual você se refere, aparece no mesmo capítulo de Gênesis, versículos 31-38. Depois da destruição de Sodoma, a família de Ló se refugiou nas montanhas. Ló tinha duas filhas e parece que não tinha outros descendentes, segundo esta narração. É por isso que as filhas dizem entre si: Nosso pai é idoso e não há homem na terra que venha unir-se a nós, segundo o costume de todo o mundo. Façamos nosso pai beber vinho e deitemo-nos com ele; assim suscitaremos uma descendência de nosso pai. As filhas, então, tiveram relações com o pai, depois de embriagá-lo e dele cada uma teve um filho, Moab e Ben Ami. Moab quer dizer "saído do pai" e Ben Ami "filho de meu parente".

Com certeza tal ação não é justificada pela Bíblia e provacava escândalo também naquele tempo. Contudo o texto sublinha não o ato em si, mas a astúcia das filhas para que o pai tivesse descendentes. Os filhos eram uma bênção (veja Salmo 128,3) e não tê-los era considerado ao menos como uma prova e, às vezes, como castigo mandado por Deus (veja Gênesis 20,18): é uma vergonha da qual, por exemplo, Sara, Raquel e Lia procuram se livrar adotando um filho que a própria serva gerou com o marido (Gênesis 16). É nessa perspectiva que deve ser lido o fato único das filhas que concebem do próprio pai.