Vanderlei, as suas perguntas, que reuni, têm muito a que ver com a história da Igreja e não estão ligadas diretamente com a Bíblia. A história da igreja é um assunto muito complexo e não temos autoridade para falar sobre ele. Com certeza uma resposta mais eloquente pode ser encontrata entre os historiadores. De qualquer forma, sem pretender ser exaustivo, passo-lho alguns elementos, que seguramente não devem bastar para o seu interesse.

No início, com os apóstolos, havia uma única igreja. Contudo houveram várias divisões dentro dela. E falar de divisões é sempre muito subjetivo, pois supõe, considerando o todo de uma realidade, uma parte principal e uma parte secundária. Isso inclui, em si, uma sentença.

Tensões já são visíveis na igreja nascente, como transparece na primeira carta que Paulo escreve aos Coríntios, cidade em que alguns diziam que eram de Apolo e outros de Paulo (veja 1Coríntios 3,4-5). Contudo, a primeira divisão mais significativa, com certeza, foi aquela protagonizada pelo bispo de Constantinopla, Nestor, depois do Concílio de Éfeso (431 depois de Cristo). Nestor e seus seguidores não concordaram com as afirmações do III concílio ecumênico que determinou a natureza divina e humana de Jesus. Eles invés defendiam que Jesus não era Deus e homem ao mesmo tempo, mas somente Deus, com aparência humana. Essa igreja existe até hoje, sobretudo em índia e é denominada "Antiga Igreja Apostólica do Oriente".

No ano 1054 aconteceu a grande separação entre o mundo católico e a igreja ortodoxa, separação entre os latinos e os orientais. Essa data lembra a excomunhão recíproca entre o papa Leão IX e o patriarca Miguel I. Foi o cúlmine de um processo muito complexo. Há dois elementos básicos que causaram essa divisão: um político e outro doutrinário. O político tem a ver com a autoridade do papa, bispo de Roma. As outras 4 grandes sedes patriarcais (Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém) pretendiam um governo partilhado. O outro ponto crítico está ligado com a teologia trinitária: a igreja latina acrescentou a expressão "filioque"ao creio Niceno-Constantinopolitano, em relação ao Espírito Santo: "qui ex patre filioque procedit"(que vem do pai e do filho). Esse acréscimo foi considerado uma heresia pela igreja do oriente. Durante os anos a reconciliação foi tentada algumas vezes e dessas tentativas nasceram as igrejas católicas de rito oriental, mas a igreja ortodoxa é muito forte até hoje.

Com certeza a divisão mais eloquente, que está muito presente em nossas vidas, é aquela que aconteceu com a Reforma, com Lutero. Trata-se de um movimento complexo que aconteceu no século XVI, cujos personagens principais é o monge agostiniano (padre católico) Martin Lutero assim como João Calvino, Ulrich Zwingli, Thomas Müntzer. Poderíamos também incluir o rei Henrique VIII, que, na Inglaterra, criou o anglicanismo. Todos esses movimentos nasceram com a intenção de preencher falhas da vida cristã protagonizadas por expoentes católicos. Do movimento da Reforma nasceram tantas denominações.

Poderíamos falar também do cisma de Utrecht, depois do Concílio Vaticano I, no século XIX, quando foi aprovada a infalibilidade do Papa...

Há muitas outras divisões que nascem hoje em dia, seja a partir da Igreja Católica, seja a partir das igrejas evangélicas. Com certeza o importante é notar que até o momento em que não seremos "um", não seremos plenamente cristãos. A divisão nos acusa e testemunha contra a nossa capcidade de viver evangelicamente. Por isso toda ação ecumênica deve ser louvada.