Olá Luciana Oliveira de Eunápolis!
Mais uma pergunta relacionada a compreensão do último livro da Bíblia, o Apocalipse. Neste site, inúmeras perguntas referentes a dúvidas vindas da leitura do Apocalipse, já foram respondidas. Estas respostas nos ajudam a ter uma compreensão mais realística do texto que o livro nos apresenta.
A pergunta sobre as duas testemunhas, mencionadas no capítulo 11 do Apocalipse para entendermos o real significado é indispensável levarmos em consideração as particularidades da literatura apocalíptica, o propósito do livro e o contexto da época de perseguição aos cristãos pelo império Romano, a comunidade dos destinatários que o livro foi endereçado. Temos já conhecimento que o Livro do Apocalipse está repleto de símbolos, figuras de linguagem, números, etc. fazendo com que na primeira leitura a pergunta que se faça não é “O que é isto?”, mas, sim, “O que significa isto?”.
Quem são estas duas testemunhas?
A opinião da maioria dos comentadores do apocalipse identificam a figura das duas testemunhas com um olhar simbólico e identificam-nas com figuras velho testamentárias de Moises e de Elias. Reforça esta ideia aquilo que João atribui aos dois personagens com referência a acontecimentos conhecidos da vida deles: citamos no caso de Elias fazendo cair fogo do céu para que não chova (conf. 1 Rs 17,1; 2Rs 1,10ss) e no caso de Moises transformar água em sangue (conforme Êxodo 7,14).
Consultando a literatura apocalíptica, temos conhecimento que a dupla Moisés-Elias estavam intimamente ligados com a chegada do Messias. Era de aceitação na esfera do Judaísmo que a volta do Messias se relacionava com a volta a terra destes dois personagens, que foram arrebatados aos céus, não estavam mortos, e esperavam o momento para interferirem nos acontecimentos.
Muitos autores católicos interpretam estas duas testemunhas como sendo a dos mártires Pedro e Paulo no início do cristianismo, que foram mártires, portanto testemunhas de Jesus e seu projeto de vida. Por outro lado podemos dizer que são figuras que representam o testemunho cristão no momento de perseguição.
Outros comentaristas interpretando com um olhar do contexto desta da época de expectativa do Messias, portanto tempos escatológicos, afirmam que as duas testemunhas em sua interpretação não fogem a regra da compreensão vinda da literatura apocalíptica. Torna-se evidente que não se trata de duas figuras reais, mas de figuras simbólicas, e não é difícil ver esboçar nelas o binômio que sintetiza o Antigo Testamento com o resto da literatura neo-testementária: a Lei (Moisés) e os Profetas (Elias).
Concluindo, aceitamos a ideia que nas duas testemunhas esteja personificado o Povo de Deus, que hoje concretiza em palavras e ação a ação profética do evangelho. Os pertencentes ao Povo de Deus são considerados luz de Deus para todo o vivente nesta terra, considerados profetas como Moisés (poder sobre a água conduzindo o Povo de Deus a terra da promessa atravessando o Mar Vermelho), e a Elias (poder sobre o fogo e o poder sobre a chuva, desacreditando os profetas de Baal).
Poderíamos ir adiante na resposta, e encontrar muitos elementos interessantes, mas estaríamos indo além do que nos propomos responder, em outra oportunidade, abordaremos outros aspectos.
Fonte: Corsine, E, O apocalipse de São João, Grande Comentário Bíblico, pág. 204-210, Paulinas 1984
Richard, Pablo, Apocalipse, Reconstrução da Esperança, Vozes Petrópolis, 1996
Vanni, H., Apocalipse, Uma assembleia litúrgica interpreta a história, Pequeno comentário Bíblico, Paulina, São Paulo, 1984.