Essa narração, muito famosa, contada em 1Reis 3, sublinha a sabedoria do rei salomão, que foi um presente divino, depois da oração feita por Salomão: "Dá a teu servo um coração cheio de julgamento para governar teu povo e para discernir entre o bem e o mal, pois quem poderia governar o teu povo que é tão numeroso?" (1Reis 3,9).
No episódio que você menciona, Salomão consegue descobrir quem é a verdadeira mãe de uma criança disputada por duas mulheres. Salomão ordena que a criança seja "cortada em duas partes e metade dada a uma mulher e metade a outra". Uma disse então ao rei: "que lhe seja dado então o menino vivo, não o matem de modo nenhum!". Salomão, por causa da atitude dessa mulher, entendeu que ela era a verdadeira mãe, pois o que lhe importava era que a criança continuasse viva, mesmo se não pudesse ficar com ela. No final se diz que todo Israel ficou admirado com o rei "pois viram que possuía uma sabedoria divina para fazer justiça".
Como as mulheres dessa narração, há tantos personagens que aparecem na Bíblia e dos quais não sabemos nada; aparecem e desaparecem. Nada mais é dito das 2 mulheres e da criança. Ficou na história só a fama da sabedoria de Salomão. E era esse o objetivo da narração bíblica.
O mesmo, às vezes, acontece com personagens mais importantes. Em alguns desses casos, a falta de informação sobre eles na Bíblia fez com que a tradição sucessiva criasse livros que contavam a sua história. Muitos apócrifos que narram a biografia de personagens bíblicos (Enoque, Maria Madalena, os apóstolos, José esposo de Maria, etc.) nasceram dentro desse contexto.