Introduzindo a resposta:

Pelos textos dos sinóticos poderemos localizar a região da Galiléia em que foi realizada a cura.

A narrativa de Mateus divide a atividade de Jesus em duas partes, Jesus na Galiléia, narrando todos os fatos ocorridos, os milagres, as parábolas etc. e uma segunda parte Jesus em Jerusalém, Paixão e morte. Se olharmos mais atentamente concluímos que Jesus esteve durante a sua vida pública varias vezes em Jerusalém. O evangelista João em sua narrativa coloca Jesus participando em cinco festas de preceito em Jerusalém. Mateus concentra em seu Evangelho cinco discursos, imitando os cinco livros da Lei, o Pentateuco, e concentra 10 milagres nos capítulo 8 até o 10, incluindo este da hemorroísa.

Na narrativa dos três evangelhos sinóticos, deste milagre encontramos Jesus na Decápode, onde acontece a cura do endemoniado Gadareno, e os demônios se jogam nos porcos e estes no mar. Sabemos que o porco é animal impuro e na Galiléia território judaico, não se criava porcos. Depois disto retorna para a Galileia, e Jesus é interpelado por um chefe de sinagoga Jairo para curar sua filha e no caminho a mulher hemorroísa é curada. Esta mulher era considerada pela religião judaica impura, por vários motivos: o fluxo de sangue a tornava impura, ninguém podia tocá-la, era uma estrangeira, e por fim era mulher. Mesmo assim Jesus cura, assombrando os presentes.

 

Onde aconteceu o milagre

Pelas indicações dos evangelhos sinóticos, foi na Galiléia, possivelmente em Cafarnaum, pois Jairo era chefe de sinagoga.

 

Quem era a hemorroíssa

Vinha de Cesaréia de Filipe, na Decápole, a procura de cura, pois tinha ouvido falar de Jesus. Era considerada impura, pois há 12 anos um fluxo sanguíneo não a deixava. Recorrera a todos os métodos possíveis, na ânsia da cura. Seu mal era considerado um sinal de desventura, um castigo divino. Mesmo entre os seus, ela se sentia constrangida. Os olhares lhe falavam do quanto a sua presença era incômoda. Detestava-na, essa era a verdade. Os recursos financeiros eram minguando e após ter gasto tudo que possuía resolveu buscar na próspera Cafarnaum, cidade importante, onde cruzavam estradas que ligavam o norte e o sul bem como a Damasco e região, na esperança de encontrar um remédio ainda não experimentado, um médico ainda não consultado.

Ela chegou à cidade no momento em que Jesus acabava de regressar de Gadara (região da Decapole e chegava a Cafarnaum. O povo se aglutinara ao seu redor. Ela já fora tão humilhada. As marcas da problemática orgânica lhe denunciavam a enfermidade. Estava descarnada, anêmica. Ela acreditava nEle. Parecia sentir que uma força extraordinária se desprendia dEle. Todo Ele era grandeza. Almejava gritar, pedir socorro, tocá-lO. Isto: tocá-lO seria suficiente para que se curasse de sua enfermidade.

Então, numa rua estreita, enquanto a multidão se aglomerava cada vez mais, ela aproximou-se e por trás, e lhe tocou as vestes com a ponta dos dedos. O milagre aconteceu O sangue estancou. A dor se foi. Logo, a voz dEle se destacou na multidão:- Quem me tocou? Os discípulos lhe dizem que é impossível saber, pois todos o apertam, comprimem. Como saber quem O tocou? Alguém me tocou, insiste Ele, porque senti que saiu de mim uma força. Seu segredo fora descoberto. Ela se atira aos pés dEle e confessa:

- Fui eu, Senhor.

Guardava a certeza que, em tocando-Te as vestes, recuperaria a saúde. Jesus a envolve em Seu olhar e a sossega:

- Filha, vai em paz. A fé te salvou. Fica livre do teu mal!

Despediu-se dos amigos, dos parentes e retornou. Seguiu-O por toda parte, nas cidadezinhas próximas, na orla do mar, alimentando o espírito com as palavras dEle, que eram fonte de Vida.

 

Antigas tradições cristãs

Estas tradições dizem que essa mulher se chamava Serápia e que, a partir de sua cura por Jesus, ficou conhecida como Verônica, que quer dizer: verdadeira imagem. O livro "Atos de Pilatos", (apócrifo do Novo Testamento) fala de seu nome Berenice. A narrativa da Paixão conta o fato. Ela acompanha o Mestre, na Sua caminhada dolorosa, rompe o cordão de isolamento, afrontando os soldados romanos, tudo para limpar o rosto Daquele que um dia a envolvera em Seu olhar amoroso, desejando Paz. Este seu gesto e retribuído por Jesus que deixa impresso Seu semblante na toalha de linho branco.

Fonte:

Rops, Daniel, Quando o canto do pássaro se cala. In A vida quotidiana na Palestina ao tempo de Jesus. Livros do Brasil. cap. 12, item IV.