Os pastores e padres e todos os que têm um papel de liderança nas comunidades estam em contínua luta para conciliar os ensinamentos bíblicos e o modo de vida atual. Em princípio, essa atitude é correta, pois é impossível ler a Bíblia sem colocar um pé na realidade em que vivemos. A dinâmica da leitura bíblica consiste em ter um pé na realidade em que o texto foi escrito e outro na nossa vida. Eliminar um dos dois aspectos dessa dinâmica provoca erros. Se o princípio é certo, a preocupação dos animadores das comunidades traz conclusões muitas vezes estranhas e discutíveis, sobretudo em relação às regras de comportamento. Aqui no site há muitas respostas sobre regras de comportamento e lê-las lhe ajudaria, com certeza.
Indo ao concreto dos temas da sua pergunta, começando pelo final, eu não tenho nenhuma dúvida que o fato, por exemplo, de jogar futebol não tira ninguém do ingresso no Reino dos Céus. E tanto menos uma mulher que se depila deixa de ser acolhida por Deus. De modo mais afirmativo: quem usa boné, joga futebol, se depila, usa maquiagem ou outros enfeites é ocolhido/a de braços abertos por Deus!
Todas essas restrições não tem nenhum fundamento bíblico. Nós precisamos nos tornar adultos na fé e saber ler as Escrituras com consciência crítica, com sabedoria. Há, por exemplo, passagens bíblicas que são críticas em relação ao uso de brincos, de cabelo comprido pelos homens, de mulheres que usam roupas masculinas. Todavia essas 'proibições' têm que ser muito bem lidas, visto que fazem parte de um contexto particular. Por exemplo, é impensável ligar a proibição do uso da calça cumprida com a passagem de Deuteronômio 22,5.; a calça cumprida não existia, naquela época, nem para os homens, que usam túnicas, como as mulheres.
Há vários textos bíblicos que nos interpelam para a sobriedade em tudo o que fazemos. O boné, por exemplo, pode ser pouco decoroso em certos ambientes, mas pode ser muito útil em outros, para proteger contra o sol, por exemplo. Condicionar o seu uso ao ingresso no céu é, de verdade, muito ingênuo. Em tudo o que fazemos devemos ser sóbrios e não provocar escândalos.
Há, todavia, uma consideração a ser feita. Uma comunidade pode ser também, uma entidade que impõe regras. Há por exemplo algumas congregações de religiosos que proibem o fumo, sobretudo por razões de saúde, combinado com exigências de ascese. Um outro exemplo: um banco pode pedir que todos os seus funcionários homens trabalhem com terno e gravata. É uma exigência lícita. Um empregado que não concorda com isso, pode protestar com os responsáveis, tentando mudar a lei ou, eventualmente, abandonar o emprego. Seria ridículo que o gerente do banco começasse a defender que aquela regra deriva da Bíblia. A mesma coisa penso em relação a certos pedidos comportamentais exigidos por algumas congregações. Podem tratar-se de medidas distintivas, que um membro aceita ou não. O grande problema é que muitos pastores fundamentam tal imposição como exigência bíblica. Aí está um engano muito grande, um leitura errada das Sagradas Escrituras.