O dízimo é um dos temas mais recorrentes aqui no site e várias respostas já foram dadas. A linha que temos adotado nas respostas é que o dízimo é uma forma de gratidão em relação ao dom que Deus nos dá e, ao mesmo tempo, uma expressão de solidariedade com os mais pobres. Hoje em dia, nas igrejas, sublinha-se sobretudo a primeira parte dessa linha de pensamento, esquecendo completamente a segunda. De fato, na maioria das vezes, o dízimo serve para manter, fisicamente a igreja e é muito pouco usado para as obras de caridade.
No Antigo Testamento se diz que o dízimo era uma forma de compensar a ausência de herança dos levitas, pois essa tribu, de onde vinham os sacerdotes, não recebera uma porção de terra, quando o povo entrou na Terra Prometida (veja Números 18,21). Todavia, como dissemos, a décima parte daquilo que alguém ganhava devia ser dada também aos pobres (viúvas, órfãos, estrangeiros), a cada 3 anos (veja Deuteronômio 14,28 seguintes).
É na perspectiva do dízimo como um elemento de ajuda social que deve ser lida a mensagem de Jesus, dita no contexto da crítica aos fariseus, encontrada em Mateus 23,23:
"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórida e a fidelidade. Importava praticar estas coisas, ma sem omitir aquelas." (a mesma passagem em Lucas 11,42).
Relembrados os fundamentos teológicos, vamos diretamente ao seu caso. Eu retenho que você não deva dar para a sua igreja 10% do seu salário (127 reais)! Se você participa de uma comunidade, é mais do que justo que a ajude a manter-se. Portanto, cada comunidade, com um conselho de tesouraria, faça um orçamento, um levantamento dos gastos, e, com contas transparentes, peça o respectivo dinheiro para a própria sobrevivência. Seria fundamental incluir nessas contas um orçamento também para uma ajuda social aos pobres da comunidade. Sabendo o total das despesas, incluindo também um salário para o pastor, se ele se dedica exclusivamente à comunidade, é possível pedir aos fiéis uma ajuda que colme os gastos, sem visar um lucro.
Não tem cabimento, hoje em dia, pedir que as pessoas deem 10% daquilo que ganham à própria igreja, simplesmente pelo fato que "Deus pede". É uma injustiça privar as famílias de 10% de seus recursos em nome de Deus. A Bíblia não pede isso. É fácil colocar Deus como autoridade das próprias palavras, mas não é justo. Os fatos contados na Bíblia, como em Atos dos Apóstolos, devem ser lidos dentro do contexto e a aplicação nos dias de hoje precisa ser redimensionada.