O assunto sobre os anjos é muito popular, mesmo entre as pessoas não tão religiosas. Há um fascínio grande em conhecer essas figuras, muitas vezes mencionadas na Bíblia.
Para entender melhor o papel bíblico desses personagens é importante lembrar que a palavra hebraica usada para "angelo" é "mal'ak", que traduzido significa "mensageiro". Na tradução grega da Bíblia, a LXX, esse vocábulo foi traduzido como "anghelos" e daí deriva o nosso termo português "anjo".
No Antigo Testamento
É um vocábulo que no Antigo Testamento aparece 215 vezes. É até mesmo o nome de um dos profetas, Malaquias, uma combinação entre "mal'ak" e o nome de Deus, que poderia ser traduzido como "mensageiro do Senhor".
Há duas concepções acerca dos anjos. A primeira retém que eles sejam seres celestes, que participam da corte de Yahweh, para servir-lo e louvar-lo (veja Isaías 6,2s). Não são figuras eternas, pois são criaturas, e podem ter defeitos (Jó 4,18). Eles podem ser usados como instrumento de revelação (veja Zacarias 1,9.11; 2,2; Ezequiel 40,3).
Nos livros se mencionam anjos de desaventuras (Salmos 78,49), exterminadores (Êxodo 12,23), anjos de morte (Provérbios16.14).
Um tipo particular de anjo são os querubins, meio homem e meio animal (Gênesis 3,24) e os serarfins, que têm 6 asas (Isaías 6,2).
O segundo tipo de anjo é o anjo do Senhor, figura celeste que recebe uma missão especifica de Yahweh.
No Novo Testamento
"Angelos" aparece 175 vezes nos livros do Novo Testamento, entre as quais 67 vezes no Apocalipse. Em 3 casos é chamado de "anjo" uma pessoa humana, um mensajeiro (Lucas 7,24; 9,52 e Tiago 2,25). Aparece também a ideia do anjo da guarda, em Mateus 18,10, onde Jesus expressa o seu amor pelos mais pequenos, e também em Atos dos Apóstolos 12,15.
Outras passagens dizem que os anjos cuidam daquilo que é conveniente e decoroso (1Coríntios 11,10), transmitem o juízo de Deus (Atos dos Apóstolos 12,23), agem em favor dos apóstolos (Atos dos Apóstolos 5,19; 12,27), anunciando a eles a vontade divina (Atos dos Apóstolos 8,26; 10,3; 27,23).
Segundo o Novo Testamento, os anjos participaram da revelação da Lei a Moisés sobre o Sinai (Gálatas 3,19). Eles também participam não só do destino dos apóstolos (1Coríntios 4,9), mas também do nosso (Lucas 15,10), levando as almas para o paraíso (Lucas 16,22). Eles enchem a corte celeste com cantos (Apocalipse 5,11). Como no Antigo Testamento, eles comunicam a revelação divina e aparecem em visões (Apocalipse 1,11; 10,1.8; 14,6; 17,1).
Por outro lado, parece que também Satanás tem seus anjos (Mateus 25,41; 2Coríntios 12,7).
No Novo Testamento aparece também o termo "arcanjo", um tipo de ser celeste particularmente eminente (1Tessalonicenses 4,16; Judas 9). São mencionados os nomes de Gabriel (Lucas 1,19) e Miguel (Judas 9; Apocalipse 12,7).
Manifestação e aparições
Na história da bíblia, a fé nos anjos cresceu muito a partir do exílio em Babilônia, quando o povo entrou em estreito contato com outras culturas e religiões. A partir daí a figura de Yahweh passou a ser concebida como mais transcendente embora sempre presente na vida do povo. Nasce, então, a necessidade de desenvolver a fé em figuras intermediárias, que fazem a ligação entre Deus transcendente e o mundo humano. Isso é muito evidente na literatura apocalíptica, começando por Daniel, onde os anjos agem como potentes forças intermediárias, que têm nome; há arcanjos, anjos vigiantes e anjos dos povos e outros 100 mil que estão em volta do trono de Deus (Daniel 4,10.14; 7,10; 8,16; 9,21; 10,5; 12,1).
É nessa linha que deveríamos entender a presença dos anjos em nossas vidas. A aparição é sempre uma manifestação, caracterizada pela presença física. Na Bíblia isso era muito comum. Lembramos sobretudo dois episódios: os 3 anjos (homens) que aparecem a Abraão na tenda em Mamre (Gênesis 18) e a anunciação à Maria do nascimento de Jesus. São presenças em etapas importantes na história da salvação. E para lá desses dois episódios, há tantos outros cuja importância não é menor.
A presença dos anjos nas nossas vidas é uma questão mais delicada. Lembro minha mãe ensinando a rezar o "santo-anjo", oração que se tornou diária. É uma forma evidente de "presença", de "manifestação". Há tantas outras formas de manifestações que somente as pessoas de fé podem experimentar e entender.