A Bíblia não foi um livro escrito da noite pro dia, mas levou mil anos para ser escrita, do início até o fim. Os críticos literários dizem que os primeiros escritos bíblicos teriam aparecido não antes do século IX antes de Cristo. Os últimos escritos foram realizados por volta do ano 100 depois de Cristo. A soma resulta em mil anos. Isso aconteceu porque a Bíblia na verdade não é um único livro, mas uma verdadeira biblioteca, como insinua o nome grego do qual deriva, a palavra "bíblia". Portanto, quanto ao início de sua existência, poderíamos dizer que ela começou a existir a partir dos primeiros escritos, há vários séculos antes da vinda de Cristo.

É verdade que a sua questão poderia ser vista de outros dois pontos de vista. Poderíamos dizer que a Bíblia passou a existir a partir do momento que se concluiu a sua escritura. Neste caso teríamos que escrever que isso aconteceu por volta do ano 100 depois de Cristo, há pouco mais de 1900 anos.

Há ainda outra perspectiva. Os escritos bíblicos no início não formavam um "corpo"único. Os livros que hoje compõem as nossas bíblias não estavam todos juntos. Certas pessoas possuíam, por exemplo, uma carta de Paulo, outros o Evangelho de Lucas ou ainda outros textos do Antigo Testamento. Devido à própria história do livro (primeiro eram rótulos, depois códex, etc.) não podemos imaginar um livro assim tão volumoso girando nas casas das pessoas na antiguidade. Poucos tinham o previlégio de ter textos escritos em casa; era coisa rara e preciosa. Além disso, por muito tempo a lista dos livros que deviam entrar na Bíblia não era clara. Havia comunidades que aceitavam, por exemplo, a carta aos Hebreus como um texto inspirado, mas outras o rejeitavam. Em outras igrejas livros que hoje não estão na Bíblia, como o Pastor de Hermas, eram considerados como livros bíblicos. Essa é a história do cânon bíblico. A última controvérsia que definiu de uma vez por todas o cânon bíblico, tanto na igreja católica quanto na igreja evangélica, foi no período da Reforma, con Lutero e o Concílio de Trento. Lutero, em relação ao Antigo Testamento, defendeu a validade da lista de livros aceitados pelos judeus, já desde o fim do primeiro século (Concílio de Jâmnia), que exclui os livros originariamente escritos em grego (Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc). A Igreja Católica, invés, reafirma a autenticidade destes e defende que são livros inspirados por Deus. Apesar do pensamento de Lutero, na igreja protestante não houve imediatamente um consenso sobre o fato de incluir ou não os 6 livros do Antigo Testamento escritos em grego. De fato o rei Tiago (King James Version) defendeu a presença deles na sua Bíblia. Somente após a sua morte, no século XVII, a bíblia protestante se afirmou com os seus 66 livros, enquanto a bíblia católica tem 73.