Os temas relativos ao comportamento imposto por algumas igrejas cristãs aos seus seguidores são muito comuns aqui no site. Costuma-se perguntar se podemos cortar os cabelos, pintar as unhas, usar joias, ver televisão, fumar, tomar bebidas alcóolicas, navegar na rede, usar calça comprida, entre outras coisas. Há várias respostas onde já espusemos o nosso pensamento, que aqui resumo, sem querer ser repetitivo.
A bíblia não dá respostas prontas para nós. Ela nos ensina a pensar e a modelar nosso agir conforme a vontade divina. Não podemos pensar a Escritura como um simples livro de regras. É um livro dinâmico e acompanha o cristão durante todos os tempos, tanto na antiguidade, quanto na Idade Média, hoje e no futuro.
A Bíblia ensina que os primeiros cristãos eram inseridos na sociedade e não seres estranhos a ela. Não é correto que o cristão se aliene da cultura de um tempo, mas é imprescindível que ele a valorize, dando-lhe valor cristão.
Há certas passagens bíblicas que falam de situações concretas em algumas comunidades, de regras de comportamento, principalmente nos escritos paulinos. Cada passagem inerente a temas desse tipo precisa ser contextualizada e bem entendida. Isso vale, por exemplo, para a questão dos cabelos compridos e curtos citada em 1Coríntios 11.
Em relação a todo esse capítulo, Paulo considerava a sensibilidade de dois grupos: dos cristãos de origem judaica e cristãos de origem pagã, que viviam em Corinto, juntos. Ou seja, a assembleia de oração era composta por gente vinda do judaísmo e do paganismo, que não conheciam o judaísmo. Pesquisas afirmam que as mulheres judias tinham por costume sair em público com a cabeça coberta, principalmente se iam nas orações. Em Corinto, que se localiza na Grécia, esse costume hebraico não tinha sentido, mas, mesmo assim, provavelmente muitos judeus que ali viviam seguiam essa prática. Paulo, que procurava conciliar os dois grupos de cristãos, propõe uma solução intermediária, para evitar que esse costume, que em si não tinha importância, se tornasse motivo de divisão da comunidade. Ele então propõe que todas as mulheres cubram a cabeça. Para os judeus isso significaria um sinal de subordinação e distinção, repeitando a ordem da criação (Deus > homem > mulher), enquanto que para os cristãos de origem pagã o cobrir-se a cabeça significaria um sinal de autoridade, sublinhando a faculdade da mulher de profetizar como o homem.
Portanto, nesse capítulo 11 da primeira Carta aos Coríntios, Paulo afirma a igualdade de participação ativa dos homens e das mulheres na assembleia, argumentando, nos versículos 3-9 em favor dos homens e nos versículos 11-12 em favor das mulheres, resultando, no final, uma harmonia que não tem nada a ver, em si, com a questão dos cabelos.
As mulheres - e também os homens, que muita vezes são muito mais vaidosos que elas - deviam seguir o conselho de Pedro:
Não consista o vosso adorno em exterioridades, como no trançado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, nem no trajar vestes finas, mas nas qualidades pessoais internas, isto é, na incorruptibilidade de espírito manso e tranquilo, que é coisa preciosa diante de Deus (1Pedro 3,3-4).
É óbvio que é necessário dizer uma palavra também sobre a sobriedade em seguir a modernidade. Há certas práticas que o cristão deve julgar e não simplesmente segui-las só porque são atuais. É necessário salvar a mensagem cristã e se certas práticas, em si, ferem essa mensagem é justo que não sejam seguidas. Todavia não se condena em princípio a vida moderna, mas se tenta preservar o cerne do ser cristão, dando somente a este cerne o valor absoluto, relativizando os costumes modernos. É isto que Paulo fazia: acolhia a lógica de certa comunidade (relação homem e mulher), mas sublinhava o princípio fundamental da igualdade que deriva da vontade divina.