Olá  Darlley de Campo Grande / MS

Este tempo da vida de Jesus que os Evangelhos não narram sempre despertou em nós muita curiosidade. Deste período nos Evangelhos encontramos apenas a passagem de Jesus no Templo aos 12 anos de idade, discutindo com os doutores da lei. Depois disto um grande silêncio que vai até o início da vida pública de Jesus.

Se buscarmos explicações os próprios evangelhos nos fornecem. Inicialmente constatamos que os quatro evangelhos escritos, em locais diferentes do Império Romano confirmam Comunidades de origem heterogêneas e com dificuldades próprias. É de se considerar que os fatos a respeito da vida de Jesus que marcavam as comunidades eram os acontecimentos da vida pública de Jesus e pouco importância foi dada para a sua vida privada no recanto da casa de Nazaré com Maria e José.

Mas por outro lado os textos que aparecem sobre Jesus deste período poderão nos ajudar a reconstruir elementos da infância de Jesus em Nazaré.

 

Infância de Jesus em Nazaré com Maria e José

 

Um episódio único deste período encontramos nos evangelhos. Jesus contava com 12 anos e numa Festa da Páscoa como era tradição Judaica, festa de preceito com peregrinação a Jerusalém, ele com sua família foram para a cidade de Jerusalém segundo a narrativa de Lucas. Jesus se perdeu em Jerusalém durante a festa da Páscoa e como Maria e José o encontram no Templo, sentado em meio aos doutores, ouvindo-os e interrogando-os e todos os que o ouviam ficavam extasiados com sua inteligência e com suas respostas (Lc 2,46-47), A narrativa de Lucas nos conta que a sagrada família retornou para Nazaré e nada mais encontramos por escrito da infância de Jesus.

 

A leitura atenta dos Evangelhos como primeira fonte

 

No evangelho de Lucas encontramos fatos importantes para esclarecer os acontecimentos relacionados a infância de Jesus. Lucas no início do Evangelho narra que Jesus uma vez apresentado no Templo segundo a prescrição judaica e as ofertas rituais segundo a Lei, “voltou para Galiléia, para Nazaré, sua cidade. E o menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com êle” (Lc,39-40). Ele era um adolescente comum, de sua época, crescendo fisicamente e intelectualmente e ajudava seu pai adotivo José na carpintaria e na vida agrícola, pois a cidade não comportava o trabalho único e exclusivo da profissão de carpinteiro durante todo o tempo.

Encontramos nos evangelhos um segundo texto: Lucas 2,51-52. Este texto confirma o pensamento do primeiro narrando a perda de Jesus em Jerusalém com 12 anos de idade.

Jesus era um jovem como qualquer outro de sua terra. O evangelista Lucas simplesmente narra que depois do acontecimento da perda no Templo Jesus voltou para Nazaré. Podemos então concluir que Jesus permaneceu em seu círculo familiar, era submisso a José e Maria. Jesus estudou e trabalhou como qualquer criança hebreia de sua época.

Marcos confirma este dado, quando descreve que Jesus pregou pela primeira vez na sinagoga de Nazaré e todos os presente neste acontecimento se assombraram e disseram: “De onde lhe vem tudo isto? E que sabedoria é esta que lhe foi dada ? E como se fazem tais milagres por sua mãos? Não é este o filho do carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão?” (Mc 6,2–3). A vida de Jesus transcorreu, no pacato vilarejo de Nazaré e no dia que se apresentou na sinagoga de Nazaré causou surpresa a todos os conterrâneos. Mas afinal como conseguiu Jesus toda esta sabedoria, se êle é filho de pessoas conhecidas, José o carpinteiro e Maria. Se Jesus tivesse a oportunidade de estudar em Jerusalém ou ter, este espanto não teria acontecido.

 

Jesus sabia ler e escrever?

 

O episódio do Templo em que os judeus, ao ouvi-lo pregar em Jerusalém, se perguntaram maravilhados: “Como é que este é letrado, se não estudou?” (Jo 7,15). Nos faz entender que Jesus frequentava em Nazaré, juntos com os outros meninos a escola da sinagoga, que ajudaram ele a ler e a escrever em hebraico

 

A necessidade de aprender a ler e a escrever de toda a criança judaica.

 

Olhando a literatura Judaica da época de Jesus vemos que toda a criança judaica, por motivos religiosos necessitava aprender ler e a escrever. Jesus não fugiu esta regra do judaísmo. Percorreu todos os caminhos que uma criança deveria percorrer. Não temos, pois, nos Evangelhos provas seguras de que Jesus soubesse ler e escrever. Entretanto podemos saber por outras vias. Durante o tempo de infância de Jesus existia em Nazaré, uma pequena escola, aonde se reuniam os meninos a partir dos cinco anos. O local por motivos religiosos estava anexo à sinagoga, e o programa escolar constava de dois ciclos básicos fundamentais.

O primeiro ciclo durava cinco anos. Se iniciava com o alfabeto hebraico, logo que se dominava a leitura se estudava a Bíblia ao ponto de decorar textos e junto com isto se ampliava os conhecimentos em outras áreas como geografia, história e gramática hebraica.

Terminada esta primeira etapa, os meninos passavam para o segundo ciclo, que durava dois anos. Neles, aplicavam-se ao conhecimento da “Lei Oral” judaica (chamada Mishná), isto é, às interpretações e complementos que os doutores da Lei faziam das leis bíblicas.

Ao chegar aos 12 anos, os meninos terminavam os seus estudos. Se algum era particularmente brilhante, então podia cursar estudos mais avançados; para isso tinha de ir para Jerusalém ou outra cidade importante do país, e inscrever-se nas escolas dirigidas pelos mais célebres doutores da Lei. Mas isso era privilégio de uns poucos; a maioria dos jovens reintegrava-se na sua família, onde começava a aprender com seu pai uma profissão para ganhar a vida.

 

Sem dúvida, Jesus, durante a sua infância, assistiu como todos os meninos da sua época nos dois ciclos básicos escolares na sinagoga de Nazaré, onde aprendeu a ler e a escrever. Mas não parece ter recebido o ensino superior próprio dos centros urbanos como Jerusalém. O comentário que dele faziam os judeus dizendo: “Como é que este é letrado, se não estudou?” – confirma-o.

 

Jesus era carpinteiro?

 

Qual foi a profissão que Jesus praticou na casa de seus pais? Pela literatura Judaica sabemos que era uma obrigação do pai encontrar um profissão para o filho. Como vimos, São Marcos diz que quando Jesus pregou na sinagoga de Nazaré, os seus conterrâneos comentaram: “Não é este o carpinteiro?” (Mc 6,3). Daí se ter pensado sempre que ele foi carpinteiro.

Com o tempo alguns estudiosos colocaram duvidas sobre esta profissão de Jesus: Afirmam que outros evangelhos como Marcos e Lucas preferem ocultar esta profissão alegando ser ela não bem vista na sociedade. Outros alegam que a Galiléia por ser uma região fértil todos se dedicavam a agricultura. As Parábolas de Jesus sempre se utilizava de elementos vindos do campo (o semeador, a semente, a cizânia, a vinha, a figueira, o grão de mostarda, etc.), e não do ambiente da carpintaria…

O aludir tanto à agricultura nas suas Parábolas, em especial as do Reino de Deus, deve-se ao fato do auditório estar formado, por agricultores e que Jesus trabalhou também como agricultor, pois José não sobreviveria só da carpintaria, assim Jesus usou muito bem um recurso do discurso da literatura Judaica as Parábolas e procurou adaptar sua linguagem aos ouvintes. Podemos, pois, concluir que Jesus, durante sua infância circulava pela carpintaria de José e era iniciado na arte do trabalho com a madeira.

 

Como rezava Jesus?

 

Jesus aprendeu a rezar, pois qualquer criança israelita, depois dos 13 anos, deveria rezar três vezes por dia: de manhã, ao meio-dia e à noite segundo instruções dos livros bíblicos (Sl 55,18; Dn 6,11; Act 10,9).

Um judeu devia recitar por dia duas orações a partir da adolescência. A primeira chamava-se “Shemá” (em hebraico, “Escuta”). E a segunda era a chamada “Shemoné Esre” (em hebraico, “Dezoito”)

Foi neste clima de oração que Jesus cresceu e que o marcou profundamente seu tempo de vida oculta.

 

A sinagoga de Nazaré nos sábados?

 

Desde a infância, aos sábados Jesus frequentava a sinagoga de Nazaré acompanhado pelos seus pais José e Maria. Com o andar dos anos, ele foi aprendendo todas as orações e os ritos, até se lhe tornarem fáceis e familiares.

Além da frequência na sinagoga, Jesus aprendeu que no sábado devia praticar o descanso total. Assim, desde Sexta-feira à tarde ajudava a mãe nos preparativos do sábado, participava dos rituais de abertura do sábado na família e da refeição no sábado na volta do serviço religioso na sinagoga.

 

Concluindo

 

A infância de Jesus, como podemos constatar não teve nada de extraordinário, como a pintam as absurdas histórias e lendas sobre este período da vida de Jesus. Foi nesta atmosfera simples e familiar, própria das aldeias da Galileia, que o menino Jesus cresceu, amadureceu e descobriu a vida em uma família simples, igual a tanta outras das aldeias da Galileia. Fazia parte do coro dos meninos na escola, que recitavam textos da Bíblia, ouvia o monótono golpear do martelo de seu Pai José na carpintaria, ou o grito repetido da mãe, Maria chamando-o para casa tirando-o da rua. Este foi o clima que Jesus viveu e assimilou durante os anos de infância.

Consulta:

ELLI, Alberto, Vida (e morte) de José, o Carpinteiro, Revista Terrasanta, nº4, 2012, (edição portuguesa) tradução do italiano de Odalberto Domingos Casonatto, pág.31-32.

MANNS, Frederico, Aqueles evangelhos ocultos chamados aócrifos, Revista Terrasanta, nº4, 2012, (edição portuguesa) tradução do italiano de Odalberto Domingos Casonatto, pág.17-21.