Segundo Mateus 27,45, Jesus, imediatamente antes de morrer, solta um grito dizendo:
Eli, Eli, lamá sabachtháni.
É Mateus mesmo a dizer o significado dessas palavaras: "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?"
São palavras em aramaico, língua que Jesus falava, que repetem uma oração, o Salmo 22:
Meu Deus, meu deus, por que me abandonaste,
descuidando de me salvar,
apesar das palavras de meu rugir?
Meu Deus, eu grito de dia, e não me respondes,
de noite, e nunca tenho descanso.
É provável que nesse momento Jesus tenha feito uma oração ao Pai, como nós quando usamos os Salmos para rezar. Mateus lembrando a primeira frase do Salmo pretende dizer que Jesus rezou.
É, sem dúvida, um grito de angústia, de dor, de desolação. Todavia, não se trata de desespero toal, pois, no salmo, essa súplica angustiada é seguida pela certeza da vitória final.
O fato de Jesus ter feito essa súplica na cruz significa que ele não era unicamente Deus, morrendo na cruz, "fingindo-se" humano. Era de verdade pessoa, ser humano, que sofria, que se angustiava, que gritava a Deus. Esse versículo mostra verdadeiramente o rosto humano de Cristo. Ao mesmo tempo - coisa que transparece lendo todo o salmo 22 - ele tem profunda confiança no Pai, na vitória final.
A atitude de Jesus revela uma fé muito profunda. É como nós, que em momentos difíceis da vida, sem poder fazer nada, nos colocamos a rezar. O Salmo 22 é uma oração!