Faço uma comparação para ser objetivo. Imagine como era uma operação de coração no início do século XX... Provavelmente os riscos eram tantos e as possibilidades de sucesso poucos. É assim por causa da evolução da medicina, da ciência.

Embora a exegese, o estudo da Bíblia, a tradução e estudo dos textos originais bíblicos não seja igual à medicina, a comparação faz sentido. De fato o estudo bíblico é uma ciência. Graças à crítica textual, à arquelogia, paleontologia e outras ciências, hoje em dia é muito mais fácil lidar com os textos bíblicos, os pressupostos originais em hebraico, aramaico e grego. As novas versões da Bíblia se apoiam nesses textos. E isso já é uma grande vantagem em relação ao passado, quando as versões se baseavam em traduções de outras línguas, como o latim, na maioria dos casos. Por exemplo, a primeira versão da Bíblia em português, feita em 1753, pelo português protestante João Ferreira de Almeida, em três volumes, publicada em 1819 num único volume, foi traduzida a partir de traduções da Bíblia em outras línguas (Espanhol: Reyna Valera; Latim: Beza; Francês: Genebra; Italiana: diodati). Em 1790 o padre católico Antônio Pereira de Figueredo fez uma tradução da Bíblia a partir da tradução latina, a Vulgata. Para a primeira tradução em português dos originais, foi necessário esperar o ano 1968, quando os freis capuchinhos de Portugal publicaram a sua versão.

Existe muita diferença em fazer uma tradução de um texto a partir do original ou a partir de uma tradução. Se o primeiro tradutor cometeu um erro, esse erro foi passado também para a segunda tradução e provavelmente a esta se acrescentaram outros.

Hoje em dia as traduções são frutos dum trabalho minucioso e confiável, realizado por biblistas experientes e escrupulosos. Você pode, por exemplo, ver a história da tradução da Nova Tradução na Linguagem de Hoje ou aquela chamada Tradução Ecumênica da Bíblia, para citar duas obras que tem o valor reconhecido.

Contudo existe ainda hoje, nas livrarias, traduções bíblicas que não são muito confiáveis. Há edições de traduções antigas, que são livres de direitos de autor e por isso a sua impressão custa barato. Se você tem em mãos a tradução Almeida feita em 1753, com certeza não vai lhe ajudar muito, pois o português nem sempre é compreensível. Há edições de bíblias que custam muito, pois usam papéis especiais, com desenhos que parecem enriquecer o valor da bíblia, mas na verdade contém um texto que não é muito confiável. Cabe a cada um de nós analisar de onde vem a versão da Bíblia que estamos comprando. Normalmente essas indicações se encontram nas primeiras páginas do livro. Se não se diz nada, é provável que o texto não é moderno. Uma boa versão, além do texto traduzido dos originais, oxalá por exegetas conhecidos, é acompanhada também por introduções e notas explicativas. Esses recursos podem ajudar muito na leitura da bíblia.