Isaías 58 fala do jejum que agrada a Deus e os versículos 5-9 representam o núcleo do oráculo.
5 - Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao SENHOR?
6 - Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?
7 - Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?
8 - Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda.
9 - Então clamarás, e o SENHOR te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente
A mensagem é bastante clara: Haviam pessoas que se preocupavam em fazer práticas de jejum, afligendo o próprio corpo, mostrando-se aflitos pela fome e sede, mas não observavam o cerne da Lei, que é o amor pelo próximo. Eram capazes de serem assíduos no jejum, mas não deixavam de oprimir os pobres. Primeiro de tudo vem o amor pelo próximo, como sublinhará o ensinamento de Jesus e a Lei será contemporaneamente observada.
Em si, Isaías não critica o jejum; critica a incoerência. Essa mensagem pode ser aplicada a tantas outras situações, onde se desvela a hipocresia: de um lado a fidelidade em mostrar aspectos que aparecem (ir à missa todos os domingos, estar sempre nos cultos) e do outro o dia-a-dia, onde nem sempre se observa os ensinamentos de Cristo.
Há outros ecos importantes dessa mensagem. Em Isaías mesmo lemos:
Que me importam os vossos inúmeros sacrifícios?, diz Iahwh. Estou farto de holocaustos de carneiros e da gordura de bezerros cevados (...) Basta de trazer-me oferendas vãs: elas são para mim incenso abominável. Lua nova, sábado e assembleia, não posso suportar falsidade e solenidade! (Isaías 1,11-13)
Também Amós adverte contra o culto formal:
Eu odeio, eu desprezo as vossas festas e não gosto de vossas reuniões (5,21).
E não esqueçamos da expressão na boca de Jesus contra os escribas e fariseus:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hotelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórida e a fidelidade (Mateus 23,23).
É importante sublinhar que as práticas religiosas em si não são condenadas. Repito: elas são julgadas negativas quando não acompanhadas pela coerência de vida, com a observância no quotidiano da caridade, do amor ao próximo.