Uma pergunta muito importante! E difícil de responder. Lembro de uma pintura de Caravaggio, na Igreja São Luiz, em Roma, que mostra um anjo que dita as palavras e Mateus que escreve aquilo que ele conta. Um modo que, embora exagerado, mostra a influência divina sobre os escritores sagrados. A tradição caracterizou essa influência dizendo que a Bíblia é Palavra de Deus, pois é inspirada pelo Espírito Santo.

É muito difícil fazer teoria em relação à ação do Espírito sobre os autores sagrados. Tentando caracterizar o seu agir, poderíamos tomar as palavras do exegeta espanhol Alonso Schökel: O Espírito Santo é um vento divino, é uma força elementar: o espírito pairava sobre o abismo no início da criação, o espírito investia tumultuosamente o herói Sansão e o empurrava aos gestos salvíficos do seu povo, o espírito vinha dos quatro pontos cardinais e vivificava os ossos que Ezequiel contemplava; o espírito era também um sopro divino que dava vida a Adão e uma brisa que confortava o angustiado Elias, e também pousava sobre o rebento de Jessé; o espírito é um vento impetuoso e línguas de fogo no dia de Pentecostes e é o dispensador dos dons e dos carismas variados da igreja em todos os tempos. Assim precisamos imaginar o Espírito: forte e livre, ativo e múltiplo, presente e invisível. E em tal contexto dinâmico e aberto devemos imaginar a inspiração dos livros sagrados (La Parola ispirata, 1969, página 13).

Em relação à Bíblia, foi o Espírito Santo que fez com que algumas pessoas falassem em nome de Deus, preparando ao mesmo tempo aqueles que depois colocaram por escrito os eventos e as palavras ditas e realizadas por essas pessoas. Nesse sentido são inúmeras as passagens bíblicas que atestam como o Espírito conduz os protagonistas bíblicos. Além disso há dois textos importantes, textos clássicos, nos quais se fala explicitamente da ação do Espírito de Deus na Palavra escrita, nos livros da Bíblia. Trata-se de 2Pedro 1,16-21 e 2Timóteo 3,14-17.

2Pedro 1,16-21: Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade. Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido. E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com ele no monte santo; E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações. Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.

2Timóteo 3,14-17: Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus.
Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.