Os capitulos de 1 a 3 de Oséias são muito discutidos. Eis a interpretação que parece a mais verdadeira: Oséias casou-se com uma mulher que ele amava e que o abandonou; mas ele continuou amando-a e recebeu-a de novo, depois de pô-la à prova. A experiência dolorosa do profeta tornou-se um símbolo do comportamento do Senhor para com seu povo e a consciência desse simbolismo pode ter modificado a apresentação dos fatos. O capítulos 2 faz a aplicação e dá ao mesmo tempo a chave de todo o livro: Israel foi desposada pelo Senhor, se comportou como uma mulher infiel, como uma prostituta, e provocou a ira e o ciúme do seu esposo divino, o qual não deixa de amá-la, e a castigará, mas com o objetivo de reconduzi-la a si e devolver-lhe as alegrias do seu primeiro amor, pois assim diz o Senhor: “Eis que eu vou, eu mesmo, seduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração “ (2,16).
Com uma coragem surpreendente e uma paixão que impressiona, o coração terno e carinhoso de Oséias exprimiu pela primeira vez as relações entre o Senhor e Israel nos termos de um matrimonio. Deus é o esposo e Israel é a esposa. Veja o que Deus diz a Israel pela boca do profeta: “Eu te desposarei a mim para sempre, eu te desposarei a mim na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu te desposarei a mim na fidelidade e conhecerás o Senhor” (2,21). Toda a sua mensagem tem por tema fundamental o amor de Deus por seu povo. O profeta lembra que o único tempo em que Israel foi fiel, foi o tempo do deserto. Mas Deus sempre foi fiel e continuará a ser para sempre, pois Ele jamais rejeitou seu povo, Sua aliança é eterna.
Oséias repreende sobretudo as classes dirigentes da sociedade. Os reis, escolhidos contra a vontade de Deus, rebaixavam, com sua política mundana, o povo eleito ao nível dos outros povos. Os sacerdotes, ignorantes e cobiçosos levavam o povo à ruina, assim diz o profeta: “O meu processo é contra ti ó sacerdote... porque tu rejeitaste o conhecimento, eu te rejeitarei do meu sacerdócio!” (3,4.6). Oséias condena as injustiças e as violências, assim ele se exprime: “Ouvi a palavra do Senhor, filhos de Israel, .... porque não há fidelidade nem amor, nem conhecimento de Deus na terra. Mas perjúrio e mentira, assassínio e roubo, adultério e violência, e o sangue derramado soma-se ao sangue derramado” (4,1-2). Mais ainda ele condena a idolatria: em Betel, o Senhor é objeto de um culto idolátrico e é associado a Baal e a Astarte no culto desregrado dos lugares altos. Oséias protesta contra o titulo de baal, no sentido de “Senhor”, que era dado a Iahweh (2,18) e reivindica para o Deus de Israel a ação generosa que o povo era tentado a atribuir a Baal, deus da fertilidade (2,7.10). O profeta mostra a imagem de um Deus ciumento, que deseja possuir sem reservas o coração dos seus fiéis: “É amor que eu quero e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais que holocaustos” (6,6). O castigo é, pois, inevitável; mas Deus não castiga senão para salvar. Israel, despojado e humilhado, lembrar-se-á do tempo em que era fiel, e o Senhor acolherá o seu povo arrependido, que gozará de felicidade e paz.