Na Bíblia há mais de 300 menções à “Lei” entendida como designação para a Bíblia Hebraica ou para o Pentateuco, os 5 primeiros livros da Bíblia. Cerca de 200 vezes aparece no próprio Antigo Testamento e aproximadamente 140 vezes no Novo Testamento. “Lei” traduz o termo hebraico Torah, que na verdade significa “ensinamento” ou “instrução”.
Analisando a Bíblia Hebraica, os livros do Antigo Testamento escritos em hebraico, vemos que, do ponto de vista do conteúdo, é formada muito mais por anúncios, promessas e história de Israel do que por leis propriamente ditas, por regulamentações e prescrições que na verdade são destinadas a promover um bom comportamento e a justiça social. Mais do que 2 terços dos textos do Antigo Testamento não têm nada a ver com legislação, mas falam da ação de Deus em prol do povo eleito, de Israel.
Portanto, Torah não é “Lei”, mas comunicação da boa nova do amor de Deus. Isso explica por que para o judeu a Torah é uma realidade que excita, que faz apaixonar, digna de amor, com a qual um se torna até mesmo namorado.
Problemas com a tradução da Torah em “Lei”
É normal o mundo cristão considerar a fidelidade à Torah, praticada também por Jesus (veja Mateus 5,17 seguintes), como um mero formalismo ou um legalismo exagerado e inútil. No mundo protestante, por exemplo, o Catecismo de Heidelberg, texto importante até hoje para a igreja reformada por Lutero diz: “Como conheces a tua miséria?” E a resposta é: “através da Lei de Deus” (veja OnLine). Mas contra conclusões assim parciais há quem sublinha: a inteira legislação é obra do homem é está em contradição com o mandamento de Deus (J. J. Jeremias).
Corremos o risco de ressaltar como o judeu, por causa da sua “lei”, está preso, ligado a um legalismo exagerado. E isso pode inconscientemente ser feito para fazer sobressair o cristianismo, que seria uma realidade livre da “Lei”. É óbvio que isso pode levar a reações preconceituosas, especificamente anti-semitas.
Como traduzir Torah?
Tudo isso nos leva a concluir que a tradução de Torah com a palavra “Lei” é muito redutiva e cria até mesmo preconceitos, além de empobrecer todo o conteúdo que o termo hebraico contém. É impossível traduzir em nossas línguas a palavra Torah sem que haja uma perda de sentido. Ao menos deveríamos tentar substituir “Lei” com “ensinamento de Deus”.