Essa passagem de Lucas, que precisa ser lida a partir do versículo 18 até 27 (Lucas 18,18-27), fala do perigo da riqueza (texto também presente em Mateus 19 e Marcos 10). Jesus sublinha que é difícil para um rico entrar no reino dos céus e usa essa metáfora:

É mais fácil o camelo entrar pelo buraco de uma agulha doque o rico entrar no Reino de Deus!

Como veremos abaixo, a metáfora do camelho não é tão fácil de entender, mas a mensagem é muito objetiva: a riqueza, muitas vezes, é um empecilho para o cristão seguir os ensinamentos de Cristo. De fato, vivendo numa sociedade caracterizada pela luta de classes, onde pobres sofrem e ricos ficam cada vez mais ricos, é difícil para os dois grupos viverem conciliados. O rico tem que seguir certos comportamentos para preservar a posição conquistada e garantir ulteriormente os bens adquiridos. Isso, muitas vezes, comporta opressão e falta de caridade. É claro que isso representa um lado da moeda. Há muitos ricos que se distinguem pela caridade e por uma vida cristã exemplar. O importante, para abraçar o Reino de Deus, é o desapego das coisas materiais.

 

Camelo no buraco da agulha

Há alguns dias escrevi aqui no site uma breve nota sobre esse tema, que repito aqui embaixo.

Todos conhecemos bem a frase de Jesus “É mais fácil o camelo entrar pelo buraco da agulha do que o rico entrar no Reino de Deus”. Considerado as dimensões do camelo e a do buraco da agulha, é óbvio que parece uma expressão irreal. É verdade que se trata de uma figura de linguagem que sublinha um elemento difícil de acontecer, uma coisa exagerada, mas mesmo assim deveria ter algum apoio na realidade.

Muitas explicações foram dadas. A mais comum é que Jesus se refere a uma porta ou beco em Jerusalém chamado “buraco da agulha”, mas não existe nenhum fundamento para tal interpretação. Há alguns estudiosos que propõe, invés, uma solução interessante.

Sabemos das várias hipóteses que pensam que as fontes dos evangelhos, num primeiro momento, antes de ganhar a redação definitiva, eram em aramaico, língua falada por Jesus. Os evangelhos, invés, chegaram até nós em grego. Alguns dizem que a passagem do aramaico das fontes para o grego dos atuais evangelhos provocou alguns erros de tradução e uma dessas seria o “camelo”.

Em aramaico existem duas palavras muito parecidas, com significados diferentes:

  • Gamai: camelo
  • Gamia: corda da rede dos pescadores

A interpretação dos críticos é que quem escreveu o grego, o texto definitivo do evangelho, leu errado a palavra aramaica, isto é, leu “gamai” invés de “gamia”. Nesse caso a frase correta dos evangelhos seria: “é mais fácil uma corda da rede dos pescadores passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.

Essa hipótese adquire uma certa autoridade se consideramos o ambiente em que foi usada, isto é, Jesus estava lidando com um grupo de pescadores, que entendia bem de cordas, de redes, mas nada de camelos.

Em relação à interpretação, normalmente se sublinha o carácter da hipérbole, uma coisa exagerada, difícil de acontecer. Isso continua valendo, mesmo se admitimos a hipótese explicada. E o cerne da mensagem continua o mesmo: é preciso ser desapegado dos próprios bens para abraçar o Reino de Deus.